terça-feira, 23 de setembro de 2014

O Sol e a Lua

No outro dia quando estávamos no praia perguntaram-me, e não foi a primeira vez:

" O Sol de Goa é o mesmo de Portugal?"

À primeira vista poderia parecer uma pergunta sem nexo, mas eu sem pensar respondi com prontidão

"NÃO!! São completamente diferentes, o Sol daqui é maior e mais vermelho. A Lua também é muito maior aqui."



Tenho duas vertentes para explicar o porquê da minha resposta, a cientifica e a espiritual.
Cientificamente, uma vez que a Índia está mais perto da linha do Equador a proximidade com o Sol é maior, parecendo assim, ser maior aqui do que me Portugal.

Espiritualmente, é aqui que me sinto mais livre, sem receios do futuro, foi aqui que me descobri. Aqui o Sol brilha com mais força para mim e a Lua é como uma bolacha no Céu negro da noite. Aqui é como se fosse um mundo completamente diferente, não há tempestades nem desastres naturais (apenas as normais chuvadas das monções), não há guerra nem crise.

O mundo parece mais bonito, pacífico e solarengo deste lado do Mundo.




sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Da(r) Vida à Morte

Posso dizer que desde que cheguei à Índia consegui seguir quase todas as celebrações desde o início da vida até à morte. 

Aqui a Morte é 'celebrada' de forma um pouco diferente, e das várias religiões presentes apenas tenho conhecimento das celebrações cristãs e hindus. 

No funeral cristão o corpo permanece em casa; as pessoas vestem-se de preto e branco e os fatos e vestidos que estão encafuados nos armários saem nestes dias. O corpo é depois levado até à igreja e daí para o cemitério, todo o caminho acompanhado ao som de músicas melancólicas.

Quando morre alguém hindu, o corpo não é enterrado, tradicionalmente seria queimado numa pira, mas actualmente usam os crematórios, e só os homens são permitidos a entrar. Neste caso, as pessoas vestem-se apenas de branco, e os familiares mais próximos permanecem em casa durante 15 dias. 



Em algumas aldeias mais remotas, a coisa dá-se de maneira diferente, as bandas tocam músicas alegres e até há foguetes no ar, celebrando a passagem desta vida para a próxima. 

Depois de entrar em contacto com todas estas formas de 'aceitar' a morte de alguém, há dois pontos que para mim são a maneira mais bonita de reconhecer a 'passagem' de alguém: as vestes brancas dos hindus, mostrando um caminho de paz e luz para o que vem a seguir, aceitando a morte como sendo parte da vida, enquanto as vestes negras apenas dão à morte a sensação de escuridão e tristeza; e as músicas alegres das aldeias, celebrando a vida melhor que vem depois desta!



segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Torturas que ninguém vê - Desmistificando Cobras e Afins

O mundo está cheio de injustiça contra os animais, somos os chamados "superiores" mas grande parte do nosso comportamento demonstra exactamente o contrário, em vez de amor, compaixão, amizade, equidade, simpatia...sentimentos que fazem de nós seres excepcionais e que deveriam construir um mundo melhor, são muitas vezes tomados como sinal de fraqueza. Mas não do bixo humano que quero falar...

Dentro da injustiça contra os animais existe ainda a injustiça dentro dessa injustiça...
Toda a gente já ouviu falar nos maus tratos contra cães, gatos, vacas, porcos, trabalho forçado com elefantes e os métodos usados no treino, os animais do circo que têm jaulas de 2 por 2 ou até quem sabe dos golfinhos usados por militares durante a segunda guerra...mas já alguma vez alguém ouviu falar da tortura que sofrem as cobras?! Sim, aqueles animais que ninguém gosta repulsivos e asquerosos que ao primeiro sinal da sua presença buscam um pau e é morte certa para o pobre bixo que nem sabe o que lhe aconteceu? Não pois não, provavelmente a percentagem de pessoas que realmente sabe o que acontece é muito reduzida. É por isso que hoje escrevo, na esperança de (já que sei que não os consigo mudar totalmente) mudar um pouco a mentalidade das pessoas, para que se apercebam que se trata de um animal como outro qualquer e que também sofre nas mãos do Homem, e dar a conhecer um pouco destes animais.

Já que estou na India, é por aí que vou começar...

Existem provavelmente mais mitos sobre cobras do que cobas. O mais engraçado é que as pessoas juram por esses mitos apesar de serem na sua maioria ficção. Muitas vezes, as pessoas querem agarrar-se a estas superstições do que aquilo que muitas vezes sabem da sua própria experiência. 

O mito mais comum é que as cobras são creaturas más e que são por natureza vingativas e por isso irão perseguir alguém que as veja. Se por acaso, a cobra é magoada ou morta devido a alguns dos teus actos, então o seu companheiro/a irá à tua procura e vingar-se-á.  Nada poderia ser mais longe da verdade. 

As cobras têm um cérebro muito pequeno, muito do qual é usado para guardar instintos. Em comparação com os seres humanos, o seu poder de memória é nulo. A sua visão é também desfocada, não são capazes de distinguir um ser humano do outro, mesmo quando são mantidas em captiveiro por vários dias. Mesmo que fossem capazes de se lembrar, elas nunca iriam atrás de vingança simplesmente porque elas são aterrorizadas pelos seres humanos. Para elas nós somos gigantes. Que chance têm elas contra esta criatura gigantesta que podem bater, mutilar e mata-las apenas com um pau? As cobras apenas mordem em própria defesa, quando acidentalmente as pisamos ou se forem provocadas agressivamente. Até a Naja Indiana, quando confrontada, prefere fugir se tiver oportunidade. A Naja abre o capuz como último recurso quando é encurralada, e mesmo assim o seu único intuito é para avisar para a pessoa se afastar. 



Nenhuma cobra irá alguma vez seguir alguém para atacar, simplesmente porque o ser humano não é comida. Tal como todas as criaturas no reino animal as cobras atacam para comer ou para se defenderem, nunca por diversão.

Cobras especificas têm mitos especificos associados:
 - A "Green Whip Snake" (vou usar nomes em inglês para não ocorrer erros de tradução) é considerada mortifera pois pode fazer um buraco no crânio de uma pessoa. Alegadamente entra pelo ouvido quando a pessoa está a dormir e come o cérebro pode até fazer saltar os olhos. Na realidade esta é uma pequena cobra de verde fluorescente que cobre pequenos pássaros e lagartos e com um veneno tão leve que para os humanos é inofensivo. Tem uma cabeça pontiaguda, e a evolução deu-lhe esta caracteristica de modo a poder imitar uma folha como camuflagem. Não tem nada a ver com o facto de poder furar a cabeça de alguém. Na verdade o seu focinho é bastante frágile, individuos presos nos zoos muitas vezes partem o focinho de baterem contras as paredes de vidro. 

- A "Bronzeback Tree Snake" também é considerada bastante mortifera, pois acredita-se que ela morde a pessoa, sobe para um ramo alto numa árvore próxima e fica a ver o funeral. 

- "Sand Boas" têm duas cabeças, cada uma para 6 meses do ano. O único ponto razoável neste mito é que as Boas têm a caracteristica de terem a cauda bastante similar à cabeça sendo dificil distinguir qual das pontas é realmente a cauda ou a cabeça. Outra supersitção não tão explicável é que se alguém lhe tocar na pele apanha Lepra. Cobras não espalham qualquer tipo de doença, eles são animais extramente limpos ao contrário do que as pessoas pensam. 

- A "Indian Cobra" (Naja naja) é a mais temida cobra da India, mas na verdade existem outras serpentes no país bem mais venonosas tais como a Krait e a Saw Scaled Viper. A Russell's Viper é bem mais agressiva e mais facilmente provocada do que a  Indian Cobra. Cada região tem os seus mitos acerca desta cobra, mas o mais popular é que guardam ouro e jóias. Serpentes não guardam e nem podem ser treinadas para o fazer, e a razão é simples porque não têm uso para elas. As suas vidas são controladas por 3 simples factores: comida, predadores e reprodução. Podem realmente permanecer nalgum lugar por longo periodo de tempo, mas apenas porque têm abundância de comida e não há motivo para partirem. 

Um dos mitos que mais raiva me mete é os "Encantadores de Serpentes". 


Os Encantadores de Serpentes são bastante comuns na India, mas na verdade não existe qualquer habilidade ou arte na prática que não passa de tortura indiscrimanda. De uma maneira ou de outra, cobras venonosas que passam pelas mãos de um Encantador morrem através de mortes muito dolorosas. 

As cobras são surdas, elas não podem ouvir nenhum tipo de música que tocado para elas com a bheen (flauta usada pelos Encantadores de Serpentes). Não conseguem ouvir nenhum dos monólogos ou comandos dos Encantadores. Por isso não podem ser ensinadas. Cobras apenas respondem aos movimentos da bheen quando o encantador a rodopia no ar na sua frente. Elas não estão a dançar ao som da música, mas sim aterrorizadas e abrem o capuz simplesmente em defesa. 

A maioria dos Encantadore escolhe as Indian Cobras por serem perigosas e as mais atrativas para o público. Mas as cobras nos cestos dos Encantadores foram fatalmente mutiladas antes mesmo de começarem a sua performance: os seus dentes e glândulas venenosas foram impiedosamente arrancadas e danifacadas a ponto de não terem remédio. Mesmo se forem resgatadas, não podem ser largadas na Natureza pois irão certamente morrer, pois não consiguirão caçar ou defender-se. 

Outras cobras que se podem encontrar nos cestos dos Encantadores são as Sand Boas e as Rat Snakes, completamente inofensivas mas que são difamadas pelas histórias do Encantador. 

Assim que uma cobra tem o azar de entrar num cesto de um Encantador de Serpentes, nunca mais verá a Natureza e a morte está apenas a 1 ou 2 meses de distância. Os Encantadores raramente se dão ao trabalho de as alimentar, simplesmente eles as mantêm até que morram de fome (o que pode levar 1 mês ou 2); ou de exaustão (o que provavelmente pode acontecer antes). Durante esse tempo a cobra é forçada a "actuar" cerca de 10 actuações por dia, cada uma com cerca de meia hora de duração. 

Alguns Encantadores para aumentar a entusiasmo dos espectadores também têm um Sacarrabos, o arqui-inimigo das cobras. O pobre bixo é obrigado a lutar com a cobra em todas as actuações. Os dentes do Sacarrabos também são partidos, mas a cobra não sabe disso. Toda a duração do espetáculo ela acredita que está a ser atacada pelo seu inimigo mortal e obviamente mantêm-se agitada e em estado de alerta para se defender. Mas a cobra também não tem os seus dentes. Não sei, mas para mim não me parece um espetáculo assim tão bom. 

Durante o festival de Nagpanchami, os Encantadores levam as cobras para os templos e às casas das pessoas para serem adoradas e aí são obrigadas a beber leite. Leite não é um alimento para as cobras, aliás actua mais como veneno, pois entra para a traqueia e causa peneumonia. (Também explica o porquê de alguns mitos portugueses em que se acredita que as cobras bebem leite serem falsos - ver Mitos Portugueses). Como alguma vez uma cobra podia beber leite? As cobras não produzem leite, as suas crias não são amamentadas. Mas mesmo assim, toda a população da India acredita que se têm de dar leite ás cobras. A verdade é que à volta de 60.000 cobras são sacrificadas todos os anos durante este festival. Não consigo perceber...se é para serem adoradas como morrem aos milhares?


Portugal não lhe ficar atrás...muitas são as histórias e mitos à volta de cobras, lagartos e outros rastejantes. Na verdade não temos nada a temer. Quem vive em cidades então nem precisa de pensar neles; e quem vive no campo só lhes tem a agradecer, as cobras comem os ratos que infestam os campos e destroem plantações, os lagartos os insectos, e as osgas os mosquitos que teimam em nos picar.


A regra é simples, em caso de encontro com alguma cobra, e esta por um acaso não fuja primeira, basta desviar-mo-nos do caminho delas. Elas não vos irão perseguir...e garanto que estão num estado de pânico maior que o vosso. Apenas atacam para se defenderem!!!

Eu faria o mesmo se um gigante aparecesse à minha frente...vocês não??!!

terça-feira, 8 de abril de 2014

O Menestrel - William Shakespeare

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se. E que companhia nem sempre significa segurança. Começa a aprender que beijos não são contratos e que presentes não são promessas.
Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
Aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que, não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam… E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se leva anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la…
E que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.
E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos de mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam…
Percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa… por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas para onde está indo… mas, se você não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve.
Aprende que, ou você controla seus atos, ou eles o controlarão… e que ser flexível não significa ser fraco, ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem, pelo menos, dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se. Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens…
Poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém…
Algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar.
Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar… que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
 E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! 
Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar.

domingo, 6 de abril de 2014

It's my Birthday =D

Sem esperança de ter companhia de um "amigo" nos meus anos, decidi que já que ia passar o dia sozinha mais valia passá-lo sozinha na praia e aproveitar o dia ao máximo. Eram 6.30 da manhã do dia 5 quando por nada acordo, olho o relógio, volto a fechar os olhos para continuar a dormir, e passados 5s a campainha de casa toca...Nem precisava de abrir para saber quem era..àquela hora só podia ser a Shamika, a rapariga que morou cá em casa durante um mês e tornámo-nos boas amigas... Decidido em cima da hora, Shamika apanhou o autocarro em Pune no dia 4, fez uma viagem de 12horas para vir passar o dia comigo...de ramo de flores na mão, foi uma surpresa logo no começo do dia que me ficar de sorriso na cara =)

Bom, já tinha companhia mas os planos iam ser os mesmo...preparamos as coisas e fomos para a praia.

Fomos para o shack do costume, criei raizes ali e não me sinto bem a ir para outro sitio. Mergulhei no mar, quente, na esperança de me livrar do calor...mas não, ao contrário das águas portuguesas, aqui parece que estou a tomar banho em sopa de tão quente que é a água...sinto falta da água fria e refrescante de Portugal. 

Chega a hora de almoço...e sendo dia especial não nos iamos ficar por uma simples sandes ou salada...peixe fresco do dia e camarões em alho e manteiga, e claro para acompanhar uma garrafa de vinho...mas afinal não tinham vinho =( então pedimos champanhe...também não tinham mas iam arranjar... foi nesta altura que Papai (o dono do shack) veio perguntar o porquê da escolha de champanhe..."It's my Birthday" respondia sorrindo...com toda a simpatia do mundo que o caracteriza veio abraçar-me e desejou-me tudo aquilo que é normal num dia como este... Como a comida ainda ia demorar, pensei "Porque não uma massagem antes de almoço para relaxar??!!" E assim foi...mas não tanto uma massagem de relaxamento mas mais uma massagem de "tratamento", foi uma massagem feita com alguma força trabalhando bem os musculos, às vezes tão bem que chegava a doer...(ainda hoje tou dorida nalguns musculos)! Ela correu tudo, costas, pernas, pés, nádegas, barriga, peito, cara e cabeça...toda a pele que ficava fora do biquini foi remexida, esfregada e apertada...




Afinal a comida não demorou tanto tempo...estava eu a meio da massagem quando vêm com os pratos...como não ia deixar a massagem a meio pedi para os levarem de novo para dentro..e ali continuei a ser esfregada e apertada. A certo ponto a massagem passou a ser dois em um...Massagem e esfoliação...devido a areia que tinha nas pernas (apesar de ela ter limpo bem antes de começar)  e junto com o óleo de côco, foi uma esfoliação integral nas pernas. Enquanto estava ali naquele misto de prazer e dor a Shamika conversava em Marathi com a massagista...contando sobre nós, o que faziamos, onde viviamos, de onde eramos...

Depois do meu couro cabeludo e o cabelo todo ser esfregado com o óleo a massagem chegou ao fim...retorná-mos à mesa no exacto momento em que chegou a garrafa de champanhe...




Logo de seguida veio a nossa comida...



Tendo em conta que eu não bebia álcool desde que sai de Portugal, e que a Shamika raramente bebe álcool, bastaram 2 copos de champanhe para a que as conversas começassem a ser profundas, mas ao mesmo tempo com gargalhadas pelo meio. 
Por coincidência havia uma festa de anos de um miúdo no mesmo sitio a partir das 3 da tarde...Com o tema Indiana Jones, tinham jogos e todo um tema para se divertirem...




Chega as 4 da tarde...e o calor era quase insuportável...decidi mais uma vez tentar refrescar-me no mar...mas mais uma vez constatei que tal não era possível...escaldei meus pés pela areia fora até conseguir à água, e quando finalmente me entrego á frescura do mar....não há frescura nenhuma!!!! Volto para cima, escaldando os pés na areia que parece brasa...e decido tentar molhar-me no chuveiro que o shack tem...mais uma vez, água quente escorria pelo embocadura do chuveiro...apenas a leve brisa a tocar na água que tinha no corpo proporcionava um pouco de efeito refrescante. 

As horas foram passando, a conversa foi se esgotando e o sol começou a pôr-se...Voltámos aos coktails e às bebidas espirituosas, não por vontade própria mas porque o Papai achou que beber só Sprite não era a melhor bebida para celebrar um Aniversário...=) Acábamos por ainda beber uns quantos copitos enquanto viamos a lua subir no horizonte. O tema de conversa foi quase sempre o mesmo...ora..duas raparigas nos seus 20 e já alguns anos, sozinhas, dedicadas ao trabalho...o tema escolhido baseava-se quase sempre em rapazes, amor, e desgostos amorosos!!! 



Com a família e amigos em mente (pois sabia que estariam de volta de computador à espera que aparecesse) decidi que já seria hora de voltar para casa. Ao tentar despedir-me o Papai apresenta-me a alguns amigos (brancos) dele que também estavam a comemorar o aniversário, todos muitos simpáticos, com mil e uma perguntas e com vários comentários sobre os Lusofonia Games (pois se nunca ouviram falar deles, eu também não, foi algo que aconteceu em Goa há alguns meses, são uns mini-olimpicos com as ex-colónias portuguesas e parece que a equipa do Brasil só trazia 7 elementos, um mini-fiasco portanto). Com mais umas piadas, gargalhadas e conversas chegou finalmente a hora de retornar para casa...já sei autocarros disponiveis o Táxi era escolha óbvia, felizmente o Papai além do Fisherman's Cafe também tem um táxi, Guest-House e Passeios guiados...por isso arranjar táxi foi simplesmente pedir-lhe. 



Com tudo o que consumimos e fizemos e pandigámos a conta ficou a menos de 4000rúpias (40€). 

Ao chegar a casa, claro que tinha a minha mãe e a minha avó coladas ao computador à minha espera...A certa altura a coisa tornou-se complicada, falar em português com a minha mãe e a com Shamika em inglês fez com que o meu cérebro já cansado e lento entrasse em curto-circuito!!! Mas foi passageiro... Enquanto falava com a minha mãe, toca o telefone do escritório, como normalmente só usam este telefone para assuntos relacionados com trabalho, foi a Shamika que foi atender... Alguns momentos depois, entra a Shamika no quarto com uma cara de incerteza/surpresa a dizer que alguém a falar português quer falar comigo...ainda com o cérebro sem saber em que lingua falar, digo um Olá meio atabalhuado...era a minha Tia Rosinha e a família quase toda a desejar-me os Parabéns... imagino a cara da Shamika quando a minha tia lhe falou em Português e ela sem perceber nada =D 

Um pouco mais tarde, irmãos por escolha e não por sangue, cantam-me os Parabéns via Videochamada fazendo-me ficar de lágrima no canto do olho. 

Foram pequenos momentos que me encheram o dia de alegria, e transformaram um dia que pensei de ir ser triste, num dia cheio de alegria, amor e felicidade. Deitei-me de sorriso na boca!!! 

Carnaval & Happy Holi

É dia do Holi...o Festival das cores. 
Manda a tradição que todos se vistam de branco e espalhem pós coloridos por toda a gente que passem no seu caminho de forma a comemorar a Primavera. Pois, como a tradição já não é o que era, em Goa a coisa deu-se de forma diferente. Talvez, e muito provavelmente, pelos 400 anos sobre o domínio portugues as tradições hindus foram-se perdendo. 

Sem saber o que me esperava, e querendo ser fiel aos costumes, vesti-me o máximo de branco possível e saí para a rua com um nervoso miudinho e olhar atento para todos os cantos e recantos das ruas escaldantes de Mapusa. Depressa me desiludi...de banco havia pouco e as cores mantinham-se em recinto fechado com pagamento à entrada. 


As comemorações do Holi foram apenas em locais próprios, em que se tinha de pagar entrada, com música nada tradicional...mais parecia uma festa de house/transe. Ninguém estava vestido de branco e podia-se andar calmamente pelas ruas. As cores estavam confinadas e a alegria presa. 






Acabei por nem sequer entrar nos tais recintos, a festa não me apelava!! Apreciei a coisa do lado de fora e fui comer pizza ali perto...assim passei as festividades. 

Mas não pensem que não apanhei cor...pois os 15min em que estive a ver o fraco "espetáculo" de cores foi o suficiente para escaldar os meus ombros e ficar com uma cor vermelho tomate!

Para a reportagem fotográfica completa: Lotus, Tigres e Pavões - Happy Holi 

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O Carnaval veio pouco depois...e mais uma vez, graças aos Portugueses, é uma das ocasiões mais celebradas em Goa. 


Várias cidades têm o seu próprio desfile, às vezes mais que uma vez. Apesa de o Carnaval ser na Terça-feira Gorda, em Goa a festa rija começa na Sexta anterior e dura os 5 dias sem parar. 
Álcool, música (maioritariamente estrangeira, e estranhamente muito regeaton, kuduro e afins) e muita alegria são uma constante no Carnaval, seja em Goa ou em Portugal.




Savio, sendo uma alma caridosa, levou-me a Panjim para ver o desfile, pensei de ser algo bem tradicional, com os seus trajes típicos...pois, mais uma vez enganei-me, não podia ser mais Português: carros alegóricos, com sátiras ao governo e tudo mais, Rei e Rainha e até música brasileira. Os verdadeiros "hinos" e "hits" de todos os Verões, numa mistura de batucadas que nunca pensei de ouvir aqui. 





O desfile foi aberto pela banda da Polícia, toda vestida a rigo, seguida de vários grupos tradicionais de dança.
Os carros alegóricos cheios de cor e luz (e música), tanto podiam se promocionais como tradionais, ecológicos ou simplesmente sem sentido nenhum. 










Foram umas boas 3 horas, uma mistura de tradição com globalização, saudade com alegria.

Reportagem fotográfica completa: Lótus, Tigres e Pavões - Carnaval

terça-feira, 1 de abril de 2014

Pensamentos (um pouco) mais profundos

Quase 6 meses já se passaram...passe depressa ou devagar não gosto de ter tempo controlado, mas neste caso, ando a contar os dias para voltar. Acho que nem é pelo tempo que estou longe que sinto saudade, mas pela distância, solidão e tristeza. Talvez se tivesse mais companhia, se fosse mais feliz aqui, a saudade e a vontade de voltar não fossem tão grandes. 
Durante o dia distraio-me com o trabalho, mas quando chega a noite e vejo que mais um dia se passou e eu sempre sozinha, a saudade ataca como se de guerra se tratasse...e perco quase todas as vezes.


Tenho a cabeça cheia de "ses", de "devia", de "talvez"...sei todos os "devia" quase de cor, mas pô-los em prática não é assim tão fácil, principalmente quando não tenho a certeza se o "devia" é realmente o mais certo para mim. E quem me aponta  mais "devias", não sabe as condições, o mecanismo e como funciona... E todos estes "devias" falhados deitam-me ao chão em "knock out" profundo. E foi por isso que deixei de ter em conta o "devia" e passei a ter em conta o "faz-me feliz neste momento". O que importa se realmente consegui um "devia" se isso não me faz "feliz nesse momento"? Ou que um "devia" valerá a pena se implicar perigo?

Através dos meus 26 anos de existência sempre houve alturas em que a solidão era companhia permanente. Mas agora vejo como estava enganada...agora sim encaro a solidão de frente e chamo-lhe amiga, é mais fácil de a suportar se a aceitar em vez de a enfrentar. E é assim que agora levo mais leves os meus dias, pois sei que a única coisa garantida é a solidão. Passo o dia rodeada com pessoas, conheço várias, mas são elas que me enchem o coração. 
O tempo que tenho passado sozinha tem me feito pesnar muito, fiquei mais "filosófica"... se têm amigos (bons, aqueles que realmente se podem chamar de amigos) aproveitem todos os momentos que têm juntos; a família que está longe e raramente se fala, arranjem tempo para lhes falarem; a comida que dá mais gosto de comer, não a deixem ficar no prato... Tudo são pequenos momentos que nos enchem o coração de alegria e deixamo-los passar por pensarmos que é apenas mais um..pois esse mais um, é o suficiente para nos fazer sorrir, para nos sentirmos amados, para nos sentirmos segurmos. Tomamos pequenas coisas como garantidas e só quando não as temos lhes damos valor. 


Nas várias viagens aue fiz recentemente pelo interior de Goa, sempre olhava as pessoas simples das pequenas aldeias perdidas nos cerros com um certo sentimento de inveja. Tenho plena noção das vidas dificeis que levam, mas ao mesmo tempo tão simples. Vivemos numa era de consumismo, "stress", e vivemos para "os outros", preocupados com o "os outros" pensam, querendo o que "os outros" têm, o que é socialmente aceitável "pelos outros". "Os outros" não são a nossa familia, nem os amigos, colegas e parceiros, "os outros" são aqueles com quem não temos relação directa (ou até relação nenhuma) que nós pensamos que nos julgam, criticam e por alguma razão tentamos por tudo agradar-lhes. Por vezes "os outros" não são ninguém em especifico, são quase um ser superior a quem temos de prestar contas, sem saber porque lhe devemos algo. Vivemos para "os outros" em vez de vivermos por nós. Não considero familia e amigos como "os outros", pois esses se realmente gostam de nós, aceitam-nos como somos defeitos e virtudes. Se isso não acontece, então sim passam a ser da categoria "os outros", pois é preciso agir como querem para que continuem próximos. 
Na vida simples das pessoas com quem me tenho cruzado, as preocupações baseiam-se na sobrevivência, que é o que realmente nos deve preocupar. Levantam-se de manhã bem cedo, para andar quilómetros sem fim para buscar água, trabalham o dia inteiro debaixo de sol cultivando a comida que tanto precisam e mal anoitece deitam-se, pois não luz para ver na noite escura. 
Sei que é trabalho árduo, mas ponho-me a pensar se "forçar" o corpo não será melhor que passar a vida matando a cabeça com stresses sem fundamento e problemas que existem na real existência da sobrevivência?
Há poucos dias falei com alguém que me disse que na nossa busca interminável pela inteligência acabámos por ficar mais burros, e levamos a vida com uma certa "burrice", tudo nos é oferecido quase sem termos de nos esforçar. E por um lado concordo, temos tudo disponível logo ali...estas pessoas não, vivem na natureza através da natureza e do conhecimento que adquiriram dela. 



Outro principio que acho fantástico nestas tribos são as "sacred groves" ...Deuses e Deusas que vivem no meio da floresta, são árvores, pedras, animais até formigueiros...o que acontece é que se um Deus vive ali então tudo à sua volta é intocável, por vezes têm comprimento de vários quilómetros. São dos sítios mais ricos biologicamente e melhor conservados através de leis básicas da cultura/religião. Mais depressa estas regras são respeitadas do que leis implementadas. 

segunda-feira, 31 de março de 2014

Netravali Wildlife Sanctuary

Último sanctuário...finalmente se acaba a aventura pelos Western Ghats. Desta vez não paro em Mapusa, vou directamente de Cotigao para Netravali...sendo um sanctuário relativamente recente ainda não possui infraestruturas para receber turistas ou qualquer outro tipo de visitantes...logo a minha estadia iria ficar por conta de uma Quinta de Especiarias, que possui pequenos quartos pelo meio das plantações. Eu fiquei com a Cinnamon Cottage. 


Tradicional, com paredes de lama e o chão batido com excremento das vacas, janelas e porta de canas e madeira. Nada disto para mim me incomodava, aliás a varanda com vista para a plantação era a melhor parte...passei a tarde do primeiro dia sentada, a olhar para a natureza à minha volta. O que realmente me estava a meter um "pouco de impressão" era o facto de a parte interior da casa ter acesso quase directo ao exterior...posso ser bióloga e gosto imenso de animais, mas é quando vou eu à procura deles, não quando estou a dormir e há a possibilidade de eles entrarem para a cama comigo. O telhado não tocava nas paredes, deixando espaço suficiente para insectos, rastejantes e afins entrarem, além dos espaços debaixo das portas e entre as janelas. 




O facto de haver marcas de garras paredes acima também não era muito reconfortante. Mas pronto, tinha de ser, tinha de arranjar coragem e aproveitar enquanto ali estava. Ahhh...mas o chuveiro era de água quente!!! 



Foi uma tarde cheia de emoções, o ver onde ia dormir, o descobrir que não havia rede telefónica ali, o facto de as coisas nesse dia não terem corrido bem de inicio, pois o RFO pelos vistos não estava à minha espera naquele dia e logo não tinha tomado as provisões necessárias para a minha chegada. Pequenos problemas que se acumulam às saudades e tristeza e que me levam a não querer mais ficar. Depois de me instalar, sentei-me na varanda, tudo à minha volta era natureza, as cores, os sons e os cheiros, deu-me para escrever, desenhar, pensar...Se não pensasse que à noite teria de dormir ali, tudo o resto era perfeito... No meio dos pensamentos, começo a ouvir um forte som a aproximar-se...sem perceber bem o som que ouvia, comecei a olhar em todos os lados, até que me apercebi que era rasmalhar de folhas mesmo no fundo do sitio onde estava..e de repente, vejo uma cobra com mais de 2 metros a fugir a 7 "pés", que mal tive tempo para a ver...do que fugia?? De outra cobra com quase o mesmo tamanho ou maior..que depois de se assegurar que a outra tinha realmente ido embora, voltou calmamente para o monte de folhas caídas ali ao pé. Aconteceu tudo tão rápido que nem tempo tive de pegar na máquina..apenas me lembro de dizer "Uooh...uoohhh..uuoohh" 



A Quinta tinha uma zona de restaurante, era hora de jantar e a noite já tinha caido...apesar de algumas lanternas pelo caminho, estava escuro que nem breu, peguei na minha lanterna e segui caminho...Por acaso, o responsável encontrou-me a meio caminho, ia buscar-me ao quarto, mas eu adiantei-me =)
Rapaz novo e com inglês perfeito, via-se que tinha hábito de falar com estrangeiros e que vivia para aquilo. Como era a única hóspede naquela noite, o jantar foi-me servido à mesa, caso contrário o restaurante funcionava como Buffet. A comida era muito boa, e ao contrário das Rest-Houses onde estive anteriormente, aqui nem se sentia o picante...mais uma vez, habituados ao palato de quem não tem hábito de picante, a comida era feita sem chilis. Sinceramente, eu até senti falta!!! O rapaz (e eu mal educada que sou nem lhe perguntei o nome...=\ ) sentou-se comigo para fazer companhia e conversamos enquanto eu comia, desajeitada, com as mãos. Uma das coisas que ainda não me habituei nestes sitios é a quantidade de comida...normalmente, trazem-me arroz, chapati, dhal (caldo de lentilhas e vegetais), caril, mistura de vegetais, e mais umas quantas coisas que eu nem sei bem...nas Rest-House e cottages onde estive, normalmente vinham as primeiras 4 coisas, mas aqui além da taça do arroz e dos chapati, deveria ter sem exagero umas 6 tacinhas com coisas diferentes, além da fruta no fim. Claro que nunca consegui comer tudo...
Após a janta, volto a dirigir-me ao meu quarto...e agora sim começava o meu sofrimento...Noite escura, isolada no meio da plantação, sem meio de comunicação com ninguém e sempre a pensar que algo iria entrar para dentro do quarto e ir para a cama comigo (sinto-me sozinha mas não é bem o tipo de companhia que queria)...Foi uma noite bastante assustadora confesso...além disso, uma árvore de caju que estava mesmo por cima do quarto, estava sempre a deixar cair os frutos, fazendo grandes estrondos ao bater no telhado e fazendo-me estremecer todas as vezes, além das marcas pelas paredes e das duas cobras que tinha visto pela tarde. Todos os sons me assustavam... não eram os bichos grandes que me assustavam, esses sabia que ficavam do lado de fora, mas os pequenos, esses tinham porta aberta por onde quisessem. Passei grande parte da noite a ver documentários da BBC - Human Planet, para animais já me bastava os que tinha à minha volta. A meio da noite, quando finalmente comecei a relaxar, tive de ir à casa de banho...passei por vários insectos, que apenas posso descrever como sendo uma mistura entre aranha e gafanhoto, que nem percurso de obstáculos..mas esses já os "conhecia" desde que tinha chegado (apesar de achar que havia alguns novos), olhei toda a casa de banho em volta para ver se havia "novidades" desde a última vez que lá tinha ido...pareceu-me tudo OK. Sentei-me, e assim que ia começar a fazer o meu xixizinho...passa-me um gecko (primo das osgas e dos lagartos) por cima dos pés a correr com quase 30cm desda a cabeça ao fim da cauda...sinceramente não sei o porquê de não ter gritado, porque a vontade não me faltou... o coração subiu-me à boca e tremia que nem varas verdes...ao ínicio não me apercebi o que era, e foi a surpresa que me assustou mais que o bicho em si...depois de me ter visto o que era, ri de mim própria, e da figura que estava a fazer (apesar de sozinha)... uma bióloga (e que diz que gosta de répteis) a assustar-se ou melhor a "cagar-se" de medo... O bicharoco lá saiu, mais assustado que eu,  e dirigiu-se para debaixo da cómoda do quarto...Sabendo que ele lá estava, já não tinha qualquer problema com ele... Desde que saiba onde estão, fico tranquila, a surpresa é que me assusta. Acabei por adormecer já passava das 5 da manhã e por cansaço, nunca sono tranquilo e abria a pestana de 5 em 5min quase que fazendo vistoria à cama e às paredes em volta. 
Às 7 começa o sol a raiar, e todos os pássaros das redondezas cantam de alegria. Ainda de pijama, sento-me de novo na varanda, observando os raios de sol a esgueirarem-se por entre as folhas das palmeiras e os passarocos a saltitar...Apesar da noite mal dormida, aquele cenário idílico e todo o ambiente que me envolvia fazia sentir-me rejuvenescida...
Às 8 dirigi-me novamente ao restaurante, e como havia novos hospedes desta vez tinha self-service. Uma espécie de crepes feitos com arroz fermentado (parece mau, mas é bastante bom), alguns vegetais, folhado de carne e doce caseiro de anánas...o melhor pequeno-almoço que já tive por aqui. Em todas as refeições tive a companhia de uma pequena gata, super dócil e sempre pedinchando algo para comer.



Segui então com o trabalho...fui conhecer o RFO do sanctuário, e fiquei completmente alegre ao saber que tal como Paresh, também este tem paixão pelo que faz. Conversámos imenso, mostrou-me os seus planos sobre as infraestruturas que quer construir e disse-me que eu já tinha idade para casar!!! Há duas coisas que oiço bastante desde que cheguei, às vezes directa, outras indirectamente...que tenho de perder peso, e que já tenho idade para casar!!! Na india não há subtilezas, se há algo de errado contigo eles dizem-te na cara...

Depois da "teoria" toda, fomos finalmente para o campo..,visitámos cascatas, trilhos, templos e até uma Plantação de Morangos que pelo percebi ser a única em Goa. Mais uma vez sendo tratada como Madame, os guardas ofereceram-me duas caixinhas de morangos (além dos que apanhá-mos e comi na hora, mesmo quentes eram deliciosos). 


Por motivos de força maior tive de voltar nesse dia para Mapusa...mesmo antes de me vir embora do sanctuário, para não desanimar a Natureza "ofereceu-me" uma muda de pele de uma cobra-de-vinha (Green whip ou Vine Snake) completa!!! (o que não é normal, normalmente só se encontram bocados). 


E assim termina a minha visita aos Sanctuários de Vida Selvagem em Goa. 

quinta-feira, 27 de março de 2014

Cotigao Wildlife Sanctuary

Após uma pequena paragem de 3 semanas para recuperar forças...sigo com as visitas aos sanctuários...Cotigao é o próximo, localizado no sul de Goa é dos sanctuários mais antigos. O carro vem directamente de lá para me apanhar, por isso desta vez não precisei de madrugar, e para meu espanto além do motorista vem também o RFO. Foram duas horas de viagem de silêncio, apenas interrompido pelo RFO para me perguntar o que eu queria para almoço. Tal como em Bondla, este sanctuário tem Cottages para os turistas que quiserem pernoitar dentro do sanctuário e um refeitório (como sempre refeições caseiras, e chá ao meio da tarde). Eu fiquei na Robin.  

Desta vez não tive Froggy na casa de banho...mas todas as noites apareciam formigas gigantes..porquê só à noite e na casa-de-banho??!! Pois não sei...mas tinha sempre de levar chinelos quando a meio da noite tinha de lá ir. 

Era já tarde na primeira noite quando sou acordada por um barulho bem forte lá fora...assustada mas curiosa dirijo-me à janela...abro-a com todo o cuidado e não vejo nada...mas o som está cada vez mais perto...ao íncio parecia no chão, mas conforme se aproxima parece vir das árvores mesmo em frente ao meu quarto, apesar das luzes continua demasiado escuro para se ver...com a curiosidade a matar-me vou buscar a lanterna, saio porta fora e com o pequeno feixe de luz vasculho as árvores de onde o som vem..e nada...já cansada e a pensar no dia que teria a seguir decidi dar as buscas por terminadas..mas antes, para poder mais tarde identificar o que era, resolvi gravar o som com a máquina fotográfica...e isto foi o que gravei (não há imagem, só som). (Por favor ouvir primeiro antes de continuar a ler)


Pergunteis aos guardas, disseram que era um Frogmouth (espécie de coruja), perguntei ao RFO disse que era provávelmente uma coruja que eles tinham reabilitado e que costumava voltar à procura de comida, perguntei a especialistas de aves e disseram-me que provavelmente era uma garça, até que por fim, alguém arranjou uma resposta que correspondia realmente ao som...não era ave nenhuma...era um macaco Langur (os que têm a cara preta) e o som era aviso de que havia perigo por perto (provavelmente um leopardo)...portanto aqui a cegueta, não viu o macaco nem o leopardo...sempre à procura para ver um e quando eles vêm para a minha porta não sou capaz de os ver!!! =\ 

É dos sanctuários mais bem mantido...sem lixo pelo chão, com boas áreas para os turistas e bem sinalizado...completamente diferente dos outros sanctuários. 

Finalmente consegui ver algo com peso superior a 2 kilos...no meu último dia, ao regressar das visitas pelo sanctuário, puder ver 2 javalis...fiquei completamente radiante =) Afinal sempre há animais por aqui...começava a pensar que fosse só um mito!!!


Nada de emocionante aconteceu (além da primeira noite) ...foram 4 dias bastante aborrecidos até...e chega a hora de seguir para o próximo!!!




terça-feira, 25 de março de 2014

Bhagwan Mahaveer Wildlife Sanctuary and National Park

4º Sanctuário aí vamos nós...mais uma vez dirijo-me a Panjim de madrugada. E mais uma vez calha-me o "Crazy Driver"...o mesmo motorista que tive uando fui para Bondla. A velocidade foi a mesma, o perigo foi o mesmo mas a distância foi quase o dobro. Apesar de algum receio, a viagem foi tranquila, ele sempre bem disposto, e o mau inglês dele com o meu mau inglês as conversas não se prolongava muito. 
Chegando ao destino, levam-me para os meus aposentos, que para minha surpresa estavam reservados para mim uma semana depois do que era suposto...mas a coisa lá se resolveu e tive direito ao meu quarto, que tal como em Mhadei ficava numa Rest-House. Duas camas só para mim e casa de banho privada, mordomo, todas as refeições caseiras e sempre ao meio da tarde chá trazido directamente ao meu quarto. E como não há 2 sem 3, também aqui tive não uma mas duas rãs na casa de banho. A primeira como foi para quarto pedi ajuda para a tirar, afinal o "Mordomo" matou-a à vassourada (se soubesse não tinha dito nada)...a outra, após descarregar o autoclismo, oiço qualquer coisa aos trambolhões pelo cano até que PLOFF...cai uma rã mesmo no meio da sanita, assustada com a viagem atribulada, a pequena salta e esconde-se no rebordo. Sem a conseguir tirar de lá, puxei novamente o autoclismo com esperança que a força da água ela descesse...Pois bem, a técnica resultou, mas resultou bem demais, a pequena foi cano abaixo. Desta vez as Froggy's III e IV deram-se mal. 

 No primeiro dia, uma vez que não estavam à minha espera, não tinham o almoço preparado. Então saí à procura de algum sítio para comer, e a sorte estava do meu lado, pois havia um restaurante/resort logo ali ao lado. Com tantas viagens, o tempo já longe da família, e o problema do almoço e da estadia (que não era grande problema) acabei por ficar emocionalmente de rastos. As viagens, o facto de passar tanto tempo sozinha, só poder falar com alguém de Portugal durante 5 min por dia e todas as provações que se têm atravessado no meu caminho, começavam a fazer mossa...passei o almoço a chorar.

Depois do almoço, e de uns minutos de reflexão lá consegui recompor-me e voltar ao trabalho. 

No dia seguinte tive uma das minhas maiores aventuras...o guarda-florestal que me estava destinado para aquele dia ia levar-me a ver uma cascata mesmo na fronteira com Karnataka, para isso teria de andar hora e meia..."tudo bem" disse eu...esquecendo-me que o terreno não é plano e teria de subir imenso. O caminho que deveria ser hora e meia levou 2horas!!! Morri 10 vezes pelo caminho mas valeu a pena...senti-me bem ao saltitar entre rochas, rastejar por debaixo de árvores caidas e outras passar por cima delas, agarrando-me a elas como se a minha vide dependesse delas...e dependia mesmo; caminhos estreitos e às vezes sem caminho nenhum, foi uma verdadeira aventura. Na recta final, tinha a derradeira subida e já podia ter vislumbre da cascata.


 Mais uma paragem para para recuperar o folego, e agora a derradeira descida para podermos chegar à base da cascata. Foi neste momento que tive realmente medo, sem caminho numa descida a pique com árvores caídas por todos os lados e terra solta a deslizar colina abaixo...sem nunca dar parte fraca segui em frente que nem touro enraivecido e finalmente...o merecido prémio...água fresca e límpida!!! Se não fosse a presença dos guardas teria me despido e atirado para debaixo da água fresca que corria cascata abaixo...mas assim, apenas molhei a cabeça e bebi, bebi até não puder mais!!!


E ali estivemos mais de uma hora, descansando (para o caminho de regresso) e apreciando a natureza à nossa volta. Felizmnete o caminho de regresso era quase sempre a descer, só levando 1h e 2 paradas para descansar. 
Mesmo com esta caminahda ao estilo BBC-Vida Selvagem os animais continuam a não mostrar sinais da sua presença. =( Tanto trabalho e aquilo que mais queria ver esconde-se melhor que o Wally. 
Claro que tanta caminhada teria as suas consequências, surpreendentemente não tive muitas dores musculares, mas os meus calcanhares sofreram e bem, bolhas que rebentaram e se transformaram em feridas, continuar o trabalho seria complicado mas teria de continuar. No dia seguinte, mais um trilho para percorrer, desta vez com 7km (só de ida, logo 14km no total)...pomada para a ferida não secar, pensos rápidos, lenços de papel e fita-cola castanha e tinha o penso feito, pronta para seguir viagem. O que me valia é que o trilho desta vez estava bem demarcado, e era praticamente sempre plano, não fazendo força nos calcanhares lá o consegui fazer, coxiando aqui e além mas consegui =)

Infelizmente a ferida não estava a querer sarar, logo não consegui fazer o resto dos trilhos a pé, apenas visitei o que era possivel ir de carro. 

Continuando no tema das cascatas e das frustações...Dudhsagar Waterfalls, as cascatas mais "turisticas" de Goa, e são lindas, onde na sua base há uma pequena piscina natural onde toda a gente se refresca....


Dudhsagar signifca "Rio de Leite" ..é óbvio o porquê deste nome, a cor branca que escorre pedras abaixo só dá vontade de nos entregar-mos à sua frescura nos dias de calor torrado que se fazem sentir. Claro que toda a gente não inclui a mim, como ia em trabalho não podia simplesmente tirar a roupa e saltar para dentro de água...mas não me sai da memória, quero lá voltar e vingar-me, passando o maior tempo possível dentro de água =) 

Pois foi neste sanctuário e neste dia que me acostumei a ser "Madame", todos me tratam por "Madame" e o guarda-florestal ao me ver de manhã até bateu continência, além das mordomias já referidas como o chá me ser levado ao quarto. 

Foi também aqui que reparei que a minha "chama" estava a desvanecer. Apesar do entusiasmo da primeira caminhada, tudo o resto agora é igual para mim, sem animais, muitas caminhadas e viagens, muito contacto com pessoas (que não é o que eu mais gosto de todo) e pouca Natureza. 
O desejo de sair desvaneceu, e só penso em voltar para Portugal.