quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Instalar na nova casa!

Cheguei a Mapusa!
É uma pequena cidade localizada numa colina com bastante arquitectura portuguesa, mas apenas há indianos à vista. O meu motorista leva-me para o escritório da Goa Foundation, organização que me acolheu e deu esta oportunidade e finalmente vou conhecer Claude Alvares, director da organização e com quem tenho falado. Rapidamente peço para que me deixar usar a net, pois não tinha voltado a falar com os meus pais desde o Dubai e eles deviam estar com os nervos em franja de não ter noticias à tanto tempo, e ele rapidamente me cede o telefone fixo e diz para estar à vontade e telefonar.
Claude é muito simpático e leva-me a almoçar fora,
- Vamos a um sítio vegetariano, que não é muito picante nem muito forte para o teu estômago.
- Sim. Fico muito agradecida pois já não como há algum tempo.
Senta-mo-nos no restaurante e o Claude pede o meu almoço (não tirei fotografia pois tive vergonha, mas vou tentar descrever o melhor possível), então chegam 2 copos de água, uma tigela de arroz com uma espécie de bolacha salgada por cima e uma prato gigante com pão frito e vários tipos de acompanhamentos, iogurte, lentilhas, abóbora, beterraba e tomate, e dois tipos de caril, tudo em metal e uma colher. Na esperança que me ensinasse a comer como deve ser perguntei:
- Como se come?
Ao qual ele simplesmente respondeu num tom de brincadeira:
- Tens mãos, usa-as!
Como sabia que é errado usar a mão esquerda para comer (pois é destinada para a "limpeza pessoal" quando vamos à casa de banho) tentei partir o pão frito só com a mão direita, mas rapidamente fui informada que poderia usar a mão esquerda que não tinha problema.
"Vamos lá então experimentar"
Enfiei o primeiro pedaço de pão na taça do molho das lentilhas e coloquei na boc, "Sim, até não era muito mau"..mas há medida que fui avançado pelas taças de acompanhamentos, o calor na minha boca foi aumentado e comecei a beber o primeiro copo de água, assim fui comendo o resto do pão frito que molhava naqueles que menos picavam e que mais gostava, e mesmo assim era mais pão que molho e assim terminei o primeiro copo de água. Como final da refeição come-se o arroz com o caril mais liquido ou com as tais lentilhas, como o caril era muito picante optei pelas lentilhas...e se não tinha sujado o prato prístino com a minha desajeitada nova maneira de comer, então esta foi a gota de água, ao derramar o molho por cima do cagulo de arroz este começa a sair pelas asas da taça, muito controladamente como quem sabe o que está a fazer começo a misturar o molho com o arroz e a puxar para dentro aquele que teima em fugir. Antes de por a primeira colher de arroz à boca, o Claude alerta-me para um pequeno fragmento de chili verde que se posicionava mesmo onde ia colocar a colher, retiro-o para o lado e ponho a colher à boca "Não comi os acompanhamentos com o pão mas pelo menos encho a barriga de arroz", mas como estava enganada! Se da primeira vez que provei não achei o molho picante agora com o arroz aquilo parecia fogo na minha boca. Já ia a metade do segundo como de água.Tentei disfarçar e comer a bolacha salgada (que não tinha grande gosto) com o arroz que quase não tinha molho, o arroz com molho era fogo, mas sem nada era desenxabido. O Claude volta-me a aconselhar:
-Tira um bocado de iogurte e mistura no arroz.
E como obediente que sou assim fiz, até porque me pareceu uma boa ideia, uma vez que o iogurte iria acalmar o picante. Mas mais uma vez estava enganada, o iogurte é azedo (não sabe a azedo, mas não tem doce nenhum) ao qual não estou nada habituada. Só depois é que o Claude me disse que por vezes eles põem açúcar no iogurte =S
Enjoada, quase com vómitos e uma falsa sensação de estar cheia acabo a refeição não comendo mais que 3 pães fritos do tamanho de um pires de café e da grossura de uma folha de papel e não mais que 4 colheres de arroz. Com a viagem o meu estômago tinha reduzido de tamanho e agora não aceita muita comida. Chega a hora de pagar a conta, o Claude joga a mão à carteira e não tem dinheiro, embaraçado e pondo as culpas na mulher pede desculpa e acabo por ser eu a pagar o meu almoço (mais tarde ele devolveu-me o dinheiro). Finalmente chego à minha nova morada, uma espécie de condomínio situado no cima da colina com segurança no portão e tudo. Os prédios têm um ar velho por fora mas são bastante bons comparados com alguns que vi durante o caminho. Subimos 2 lances de escadas com a minha mala de 28kg e dou de caras com a porta do apartamento aberta, pelos vistos não é só a "minha casa", mas serve também como escritório para a OFAI (organic farming association of India), a casa tem 3 quartos, dois deles servem de escritórios e o meu de dormida. À noite estou sozinha, mas durante o dia tenho a companhia de 2 homens e uma rapariga (que infelizmente ainda não consegui decorar os nomes). É com ela que tenho contado para me ajudar a descobrir como funcionam as coisas cá em casa. O Claude é muito simpático mas deixou-me desamparada, são estes 3 novos "companheiros" de casa que me têm ajudado em tudo. Vou então conhecer o meu quarto, eventualmente vou ter de partilhá-lo alguns dias com uma rapariga que cá vem de vez em quando também da OFAI, mas pelo menos assim sempre tenho companhia. E esta é então a minha casa.
Este é o quarto onde estou a dormir (como se pode ver pela desarrumação)

Chuveiro

Resto da casa de banho



Cozinha em estilo minimalista, um bico de fogão a gás, poucos pratos e panelas e mini frigorífico.

E aqui é a sala, transformada em sala de reuniões e meu futuro posto de trabalho.

A minha cama.
Ao inicio tive receio do colchão por ser um pouco duro, mas depois de lá dormir até é bastante confortável. A cama é feita apenas com um pano por cima do colchão, não há necessidade de mais nada pois o calor é muito. Felizmente em todas as divisões há ventoinha no tecto. Apesar de as tomadas serem do estilo inglês ainda não necessitei do adaptador, pois as entradas estão feitas de maneira a que uma ligação de duas pontas entre (pelo menos aqui em casa).
Depois de cama feita, e de ser apresentada a toda a gente, o Claude deixa-me para poder descansar. É então que a rapariga me pergunta se tomo banho de água quente ou à temperatura ambiente, enquanto pensava ela foi buscar um aparelho, uma resistência, então com a rapidez que o meu pensamento ainda tinha consegui entender o esquema, enchia-se o balde presente na casa de banho com água e colocava-se a resistência lá dentro para que a água aqueça. Com medo da tal gerigonça e com o calor que tinha, disse que tomava mesmo de água fria para refrescar. E então lá fui, e foi a melhor escolha que fiz, a água sai quase quente da torneira devido ao calor, soube-me tão bem este banho de água "fria" que parecia outra. Deito-me na cama para dormir, ponho o mp3 com música para me sentir mais em casa, mas o sono não pega. Agora que tinha chegado e que a saga da viagem tinha terminado, que finalmente tinha conseguido aquilo que ando a lutar à tanto tempo, caiu em mim, estou longe da família e dos amigos, da minha terra, da minha língua, de tudo o que conheço, estou num sitio completamente desconhecido e completamente sozinha! As lágrimas começam a descer pela cara que nem cascata. E que nem uma criança pequena com medo só consigo pensar "Quero a minha mãe! Quero a minha cama! Quero ir embora!". Esquecendo tudo o que sonhei e aquilo que me trouxe aqui, só consigo pensar nas coisas negativas, e sinto-me cada vez mais sozinha e perdida. Na esperança de algum conforto, ligo o computador para falar com as pessoas que deixei para trás. Sinto-me mal por lhes dizer que estou mal, que não me sinto bem...mas não o posso dizer às pessoas daqui, e não consigo guardá-lo cá dentro. Sei que é o primeiro impacto, que me vou habituar...mas sinto-me sozinha à mesma. Para ter alguma companhia, ligo-me na Sic online e vejo a telenovela da tarde e o Boa Tarde enquanto me deixo adormecer pois já é bem de noite. Após algum esforço lá me deixo dormir, mas foi uma noite mal dormida. Sempre a acordar, e cheia de calor...Meu Deus o calor...mesmo com a ventoinha no máximo passei a noite toda a suar!!!
De manhã acordo mais bem disposta. Visto-me e penso que tenho de sair para comprar alguma coisa para comer, peço indicações aos meus "companheiros" de uma mercearia para poder comprar comida e eles indicam-me uma bem perto. Encho os pulmões cheios de ar e saio porta fora. Pelo caminho inteiro faço as cabeças virarem, por onde passo toda a gente fica a olhar para mim, sou completamente um Alien aqui, a única "branca". Chego ao mini-mercado (que não passa de uma banca na rua) e encontra-se fechado, o Claude anteriormente tinha-me mostrado onde eram os supermercados quando vinha-mos de carro, é claro que eu fixei ligeiramente o local, sabia que era lá em baixo, teria de descer a colina e depois voltar a subi-la com as compras. Como era primeira vez "sozinha no mundo" decidi não arriscar e ir a uns quiosques mais à frente, claro que a escolha não era muita, mas felizmente tinham massas instantâneas, batatas fritas Lays, bolachas de chocolate, e Pepsi, que foram as minhas refeições hoje, chá preto com bolachas para o pequeno almoço, massa instantânea de cogumelos para o almoço, batatas fritas para o lanche e massa instantânea de queijo para o jantar.
O meu jantar.

A rapariga disse que poderia me mostrar os locais onde poderia fazer as compras, mas que a moto dela não leva duas pessoas, mas um dos homens (o mais simpático) tem uma mota de dois lugares e já me disse que não se importa de ir comigo amanhã comprar o que preciso, que me leva a um sitio onde não tenho de regatear preços (mais uma coisa que tenho vergonha de fazer mas que tenho de aprender). Para distrair a cabeça, comecei já a ler tudo o que me deram, vim para a sala e montei a minha secretária aqui, perto da varanda e infelizmente perto da porta. Como a casa funciona também como escritório, durante o dia a porta permanece aberta, assim, todas as pessoas que passavam nas escadas podiam ver-me, por isso quase virei animal de zoo, pois todas ficavam a olhar para mim, mas daqueles olhares directos e sem vergonha, não levei a mal claro, e até achei uma certa piada. Depois de ficar sozinha, decidi que seria hora de fotografar o mundo à minha volta...
Vista da varanda

Vista ao longe

Vista da esquerda

Vista da direita

Disseram-me para a partir das 17h fechar as janelas porque há ratos...mas até agora só vi esquilos. =)

Pássaros a que eu chamo de "gralhas"...são a coisa mais comum aqui, porém fico sempre toda excitada quando os vejo. =)

Assim como as nossas gralhas, estas são muito barulhentas, é barulho o dia inteiro.

Mais um esquilito na palmeira ao pé da minha varanda.


Esquilo zombie =D

E pronto, foi hoje assim o meu dia. Que aventuras me esperam amanhã. =)

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