sexta-feira, 15 de novembro de 2013

"Mapusa Mapusa Mapusa Mapusa..."

Hoje foi mais um dia de caminhadas...
Como ontem não consegui fazer o registo no FRO da Polícia em Panjim, hoje tive de voltar...E aproveitei a boleia de Claude que ia para uma terra vizinha...
Uma vez que precisava de fotografias para o registo, ao chegar a Panjim, dirigi-me a um fotografo perto do FRO que tinha visto no dia anterior...peço então para tirar fotografias, dão-me um papel, pago e mandam-me seguir para a sala do lado...sento-me num banquinho de pedra e um fundo azul por trás... gosto imenso de fotografar, mas quando estou do outro lado da câmara a coisa não corre tão bem, estando com noites mal dormidas em cima, com imenso calor e com nervoso miudinho a fotografia ficou um "mimo" =\
Meto medo a mim mesma...
Mas enfim, para o serviço dava perfeitamente...
Ao entrar no FRO, mais uma vez estava um mundo de gente, e sinceramente os/as polícias não são muito simpáticos, entreguei os papéis, colaram mais uma foto minha no livro de registos (um caderno de capa dura dividido em quadrados a caneta onde colam a fotografia e escrevem os nossos "números", extremamente moderno e actualizado), ficaram com o meu contacto e disseram que me iam ligar...e pronto estava despachada! Agora começava a Parte II do desafio deste dia, ir a pé até aos autocarros sem saber onde era...felizmente existe o Google maps, e na noite anterior consegui ter uma ideia de qual caminho seguir...lá comecei a caminhada de quase 2km. Panjim é uma cidade bastante normal, parecida com Lisboa mas com pessoas mais "escuras". A cada paço que dava, a minha confiança aumentava e andei por Panjim "Like I owned it", era como se já tivesse feito aquele caminho imensas vezes, eu fazia parte daquele mundo, não era apenas uma "estrangeira". A parte mais difícil de andar a pé é atravessar as ruas, trânsito louco que não pára para nos dar permissão para passar, simplesmente é benzer-me pedir ajuda a Deus e jogar-me para o meio da estrada..não vale a pena esperar que me deixem passar, ou que parem de vir carros, a melhor maneira é pôr o pé no meio da estrada e começar a contornar os carros, motas e camiões que vão passando...felizmente muitas vezes juntava-me a um grupo e seguia-lhes as passadas...
Parte III do desafio, descobrir qual o autocarro directo para Mapusa! Uma gare a transbordar de autocarros coloridos (e bastante usados) e de pessoas, e uma vez que não existem quadros informativos sobre a localização dos autocarros, o método utilizado é...Gritar!! Os condutores/cobradores dos autocarros, põem-se a gritar o destino...Claro que com aquela confusão e com o tamanho do espaço, nunca iria ouvir o meu "chamamento", por isso fui interrompendo alguns motoristas e pedi-lhes indicação de onde estaria o meu autocarro. Finalmente oiço ao longe "Mapusa Mapusa Mapusa Mapusa Mapusa" (pronuncia-se Mápsa), repetidamente e numa velocidade quase imperceptível, e aí cometi o meu primeiro erro, perguntar o preço do bilhete... Apesar de os autocarros terem preços fixos, o cobrador (que não é o mesmo que conduz) tirou-me logo o talho e cobrou-me mais pelo bilhete. Ao errar, é que se aprende, por isso para a próxima, além de já saber o preço do bilhete, não volto a perguntar e faço de conta que sei como a coisa funciona.
Enquanto que em Portugal, existem uma data de acções que não podemos fazer dentro dos autocarros e todas bem sinalizadas, neste apenas existiam duas regras escritas a tinta preta na própria "parede" do autocarro, "No smoking / No spiting" (pensei que esta última fosse óbvia, mas pelos vistos aqui não). O autocarro começa a andar, ainda de portas abertas (presas por cordas) e o cobrador continua lá fora a correr ao lado do autocarro a gritar o nosso destino, e as pessoas continuam a entrar sem que o veículo pare.
A meu lado senta-se um pai, ainda novo, com uma bebé ao colo. E de pé mesmo ao lado duas meninas lindas. A bebé foi o caminho todo a meter-se comigo, o que deu azo a algumas trocas de palavras entre mim e o pai da criança. Neste momento senti pena de não ter a máquina comigo, mas nem pensei em levá-la devido ao calor e à quantidade de caminho que tinha de andar a pé. Cada vez que olhava para as meninas, elas presenteavam-me com um sorriso envergonhado e ao mesmo tempo um olhar curioso. Aquelas crianças, e a simpatia do homem sentado a meu lado, fizeram sentir-me bem comigo mesma e estranhamente feliz.
Por fim, chegamos a Mapusa! Mais 1km para chegar a casa, e desta vez era sempre a subir. Por ser "branca", estou constantemente a ser abordada na rua a perguntarem se não quero um táxi (para me chularem mais umas quantas rúpias a mais), mas enquanto que em Panjim não respondia ou então dava uma resposta seca, agora não, respondia de sorriso na cara e continuava o meu caminho. Os sorrisos daquelas crianças tinham enchido o meu coração de alegria.
Já que estava fora de casa, corajosa e principalmente cheia de sede, achei que devia de arriscar e negociar por uma Água de Coco, 30 os grandes e 25 os pequenos, comecei por 10 rúpias, mas ele não dava o braço a torcer, pedi então 20 por um pequeno mesmo sabendo que estava a pagar demais. Depois de muito pedir e quase me por de joelhos, ele lá me vendeu o pequeno coco para matar a sede por 20rúpias, quando o seu preço deveria ser 10. Mas fiquei contente comigo mesma, apesar de mal amanhada, e de ser má regateira, consegui ter um desconto e fazer a minha primeira compra fora dos "preços fixos".

A Índia deve ser dos países com mais religiões, e todas vivem em harmonia, as maiorias são os cristãos, hindus e muçulmanos. Hoje pelos vistos foi dia de reza na mesquita aqui perto de casa, podia-se ouvir pelos altifalantes as vozes a entoarem o Alcorão, e a quantidade de pessoas presentes era enorme.
No apartamento ao lado do meu a família é hindu, e devido às festividades do Diwali (a festa das luzes) que dura 24dias, têm feito desenhos com areia fina e colorida à porta.

Apesar de parecerem cruzes suásticas, estas ao contrário das nazis representam vida, é um dos 108 símbolos de Vishnu - e representa os raios do Sol, sem os quais não haveria vida.É um símbolo bastante usado pelos hindus. 
Além disso, podem-se ver em todas as casas hindus, várias lanternas e luzes representativas do Diwali, e são largados foguetes quase todas as noites. Aliás uma destas noites, estava eu a dormir descansadinha quando fui acordada brutalmente por um "morteiro" largado bem aqui perto, já era 1.30 da manhã.

Isto é ainda o pouco que sei sobre as culturas e religiões de cá. Espero que quando fizer mais amigos e tiver mais companhias que aprenda bastante mais deste belo país!

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Buttermilk

Hoje fui até Panjim para me registar no FRO (Foreigners Register Officer), ao entrar fiquei estupefacta e sem saber o que fazer com a quantidade de pessoas que estavam lá dentro. Em vez de esperar, perguntei ao oficial que não estava a fazer nada, o que precisava para me registar, indicou-me para o seu colega, que após uma olhadela rápida para o meu passaporte deu-me 3 formulários iguais para preencher, e disse que precisava de 3 fotografias, fotocópia a cores do passaporte e um comprovativo de morada. Basicamente, fui lá e não fiz nada.
Já que estávamos em Panjim, o Claude (director da organização onde estou e meu anfitrião) levou-me até ao Departamento de Florestas de Goa para conhecer as pessoas com quem vou trabalhar no próximo ano. Entrámos num escritório onde estavam em reunião 4 homens. O Chefe do Departamento, tal como em filmes, possuía uma majestosa secretária, um relógio de ouro e staff que nos serviam bebida. Eu por cortesia disse que não queria nada, mas o Claude aconselhou-me a experimentar o "buttermilk" (soro de leite coalhado), para não fazer a desfeita disse que sim mas já sabendo qual iria ser o meu futuro. Ao início, e ao contrário do que estava à espera, o primeiro gole não foi mau, não era doce era amargo mas não se bebia mal, mas habituada a leite e iogurtes doces, aquele liquido grosso e azedo começou a enojar-me... dei uns quantos goles (a custo) e fiquei por ali. Pouco depois, veio o pior, o estômago começou a ressentir-se e fiquei o resto do dia enjoada, principalmente ao me lembrar daquilo.
NOTA MENTAL: Não voltar a beber "buttermilk".
Claude disse que por vezes põem chili ou especiarias, mas se simples já é mau, azedo e picante deve ser bem pior. =\
A nota positiva é que fiquei a conhecer um pouco de Panjim e as pessoas com quem vou trabalhar. Amanhã tenho de voltar ao FRO e terei de voltar para casa de autocarro. Estou um pouco ansiosa para ver como corre!! =)

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Andar de mota é que é bom!

É o meu 3º dia em Mapusa, como já me sinto mais corajosa, pedi para irem comigo às compras e que me ajudassem a comprar um cartão SIM...
Como já era de esperar, os meus "companheiros" não têm carros só motas...e eu estava desejosa de andar em uma =D
Lá me sentei na dita cuja, e agora vinha a parte difícil "Como é que eu me seguro??!!" com medo de me agarrar à cintura do meu "motorista" pois poderia passar das marcas, e com medo de não me agarrar de todo e acabar por cair, achei melhor perguntar
- Como é que é melhor eu me agarrar?
- Como te der mais jeito!
Como achei que "abraçar-me" a um total estranho seria demasiado, acabei por me segurar à mochila que ele trazia. E aí vamos nós =) Colina abaixo, mas sempre devagar pois ele sabia que era a minha "primeira vez", lá iamos para o meio da cidade. O andar do lado esquerdo da estrada já quase não me faz confusão (apenas nas curvas, rotundas e cruzamentos), e depois em cima Dela não era assim tão assustador. Aproveitei a viagem e fui olhando para tudo, absorvendo tudo o que podia, aos poucos e poucos a tensão desta nova experiencia passou, e relaxei, deixe-me ir!
Chega-mos então a uma loja Vodafone, em que os números aqui começam com 97, e enquanto em Portugal muitas das vezes até são dados, aqui é necessário uma fotocópia do documento de identificação e uma fotografia, quase como se abrissem um processo. Como os meus "companheiros" já me tinham avisado sobre isto, já ia preparada. Porém sabia que aquele cartão não iria funcionar no meu telemóvel bloqueado, então como se fosse a coisa mais normal do mundo fomos a uma pequena loja (aqui até as lojas mais normais, em Portugal seriam consideradas suspeitas) em que o senhor abre o meu telefone e telefona para alguém e farta-se de falar (e eu sem perceber nada), então levaria 3 dias a desbloquear o meu telefone e 800rupias. Apesar de estar acompanhada por quem percebia do assunto, não me sentia muito à vontade em deixar o meu telemóvel com completos estranhos que iriam "violá-lo", por isso decidi comprar um pequeno telemóvel que ficaria a 1350rupias (15euros). Depois de tudo isto, retornamos à loja da Vodafone e lá comprei o cartão (que demora 24h a ser activado, e temos de ligar para um número especifico, dizer o nosso nome e morada). Como não tenho ainda noção de quanto custam as coisas por aqui, não levei dinheiro suficiente, felizmente a pessoa com quem estava conseguiu ajudar-me. Voltámos a montar-nos na mota e toca a vir colina acima...mais uma vez, vinha de sorriso na cara a olhar para tudo.
Depois de mais um almoço à base de massa instantanea e batatas Lays com sabor a tomate, concentrei-me nos livros e artigos que tenho para ler.
Finalmente chegara a hora de ir comprar comida. E qual o meio de transporte escolhido?? A mota, pois claro! Se a primeira custou a chegar cá acima, por esta eu até sentia pena por ela e tinha vontade de lhe pedir desculpa, não sou propriamente levezinha, e o seu dono menos ainda... Para não vir de sacos pendurados, levei a minha mochila às costas e lá começámos a rota dos supermercados...Ao entrar no primeiro "super-mercado" deparei-me com aquilo a que nós denominamos de "mercearia", começo a olhar para as prateleiras à procura de algo a que esteja habituada..pouco a pouco lá fui enchendo o cesto: arroz com gorgulho, manteiga em pacote de cartão, galinha desossada, massa espiral, leite num pacote "mole", em que ou se usa de uma vez, ou então não sei como "acondicionar" o pacote de volta no frigorifico, uma lata de atum e uma de cogumelos, uns cereais, pão de forma, sal refinado em saco de 1kg e sabonete Tide para lavar a roupa à mão (800rupias, uma vez que escolhi coisas maioritariamente coisas importadas a conta fica mais cara)...primeiras compras feitas, mochila às costas montei-me na mota e seguimos para a banca dos vegetais, uma vez que já era tarde já estava tudo muito escolhido mas mesmo assim ainda encontrei uns bons tomates, pepinos (que aqui são brancos), cebolas rochas, maças, bananas e uma melancia anã. Estes como já não cabiam na mochila ficaram acomodados num saco aos pés deste meu novo "motorista" (sim, num dia só andei a "cavalo" com dois homens diferentes). Agora começava a anoitecer, a emoção era maior, disse ao meu "motorista" que não precisava de ter cuidado, por esta altura já não me agarrava a nada, ia com as mãos calmamente pousadas nas minhas pernas, poderia conduzir como é normal...se é para experimentar, que seja como deve ser =) A confusão agora era bem maior, luzes por todos os lados, buzinadelas a dar com um pau e ainda várias pessoas a atravessar pelo meio do trânsito. Foi extremamente emocionante e adorei!!! Senti finalmente que estava na India, esta sim era a India que tinha em mente, até agora tinha achado tudo muito normal!!!
Seguimos no nosso passeio, parámos em mais um "super-mercado"/mercearia onde ainda comprei óleo (mais uma vez num pacote mole, que não dá jeito nenhum guardar depois de aberto), queijo e um rolo de papel higiénico (que tenho de poupar bem). Uma garrafa de azeite custa à volta de 455rúpias (cerca de 5euros), logo optei pela versão mais barata. Tendo todas as compras feitas, ele foi me mostrar mais uns quantos sitios, o mercado (ao qual eles não me deixam ir para já, pois ainda não sei regatear preços, e se me virem lá vou ser "presa" fácil e vão extorquir-me o dinheiro todo), um talho todo bem apresentado para comprar carne fresca e à peça, a paragem de autocarros e mais uma banca de vegetais, esta última parte foi a mais caótica, entrar no meio da praça dos autocarros, cada um andando para seu lado cheios de cor e de música, tipicamente a India que se vê nos filmes, e nós numa mota (que se "cagava" toda para conseguir andar connosco em cima mais as compras) no meio de 3 ou 4 autocarros cada um a virar para seu lado e montes de pessoas pelo meio...mas nunca tive medo, estava completamente embrenhada naquilo tudo, toda a cor, cheiro (que em algumas ruas não era o melhor =\ ), os sons, enfim...todos os meus sentidos estavam sobrecarregados e o meu cérebro estava a adorar!!! (Este passeio ajudou a situar-me melhor, acho que se sair a pé já não me perco tão facilmente.) Pois se a mota já custava a andar a direito, quando foi para chegar a casa então só me apetecia "desamontar" e empurrá-la...ouvia-se o acelerador no fundo, o metal sobreaquecido começava a queimar-me os pés e não andava a mais de 20km por hora. Com bastante esforço (por parte da pobre da mota) lá chegamos a casa.
Finalmente consegui comi carne desde que cheguei =)
Comecei a preparar a comida, lavar o arroz e tirar o gorgulho, lavar bem o frango parti-lo e temperá-lo com sal (refinado) e uma saladinha...uma vez que só tenho um bico de fogão, comecei pelo arroz, e depois fritei o frango no que parecia ser uma chapa com fundo arredondado...as panelas daqui em Portugal seriam chamadas de tigelas... basicamente, são umas tigelas de metal de diferentes tamanhos sem pegas nem nada, existe uma garra para que possamos tirá-las do fogo sem nos queimar-mos apenas. Como já disse, o sal que tenho é refinado, e estando habituada a usar sal grosso acabei por salgar toda a comida...o que sinceramente não me fez diferença, estava bastante satisfeita com a minha simples refeição e não ter de comer picante, azedo ou massa instantanea. Para finalizar uma bela de uma fatia da melancia anã que me soube a mel, para quem está habituada a comer comida fresca, estar à dois dias a comer massa instantanea, batatas fritas e bolachas já começava a ser tóxico. Infelizmente não comprei, nem cozinhei como estou habituada, mas é melhor que nada, quando começar a conhecer os "cantos à casa", logo começo a aventurar-me nos sabores da Índia. =D
E agora vou tomar banho, pois até eu já cheiro a "Índia". =\

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Instalar na nova casa!

Cheguei a Mapusa!
É uma pequena cidade localizada numa colina com bastante arquitectura portuguesa, mas apenas há indianos à vista. O meu motorista leva-me para o escritório da Goa Foundation, organização que me acolheu e deu esta oportunidade e finalmente vou conhecer Claude Alvares, director da organização e com quem tenho falado. Rapidamente peço para que me deixar usar a net, pois não tinha voltado a falar com os meus pais desde o Dubai e eles deviam estar com os nervos em franja de não ter noticias à tanto tempo, e ele rapidamente me cede o telefone fixo e diz para estar à vontade e telefonar.
Claude é muito simpático e leva-me a almoçar fora,
- Vamos a um sítio vegetariano, que não é muito picante nem muito forte para o teu estômago.
- Sim. Fico muito agradecida pois já não como há algum tempo.
Senta-mo-nos no restaurante e o Claude pede o meu almoço (não tirei fotografia pois tive vergonha, mas vou tentar descrever o melhor possível), então chegam 2 copos de água, uma tigela de arroz com uma espécie de bolacha salgada por cima e uma prato gigante com pão frito e vários tipos de acompanhamentos, iogurte, lentilhas, abóbora, beterraba e tomate, e dois tipos de caril, tudo em metal e uma colher. Na esperança que me ensinasse a comer como deve ser perguntei:
- Como se come?
Ao qual ele simplesmente respondeu num tom de brincadeira:
- Tens mãos, usa-as!
Como sabia que é errado usar a mão esquerda para comer (pois é destinada para a "limpeza pessoal" quando vamos à casa de banho) tentei partir o pão frito só com a mão direita, mas rapidamente fui informada que poderia usar a mão esquerda que não tinha problema.
"Vamos lá então experimentar"
Enfiei o primeiro pedaço de pão na taça do molho das lentilhas e coloquei na boc, "Sim, até não era muito mau"..mas há medida que fui avançado pelas taças de acompanhamentos, o calor na minha boca foi aumentado e comecei a beber o primeiro copo de água, assim fui comendo o resto do pão frito que molhava naqueles que menos picavam e que mais gostava, e mesmo assim era mais pão que molho e assim terminei o primeiro copo de água. Como final da refeição come-se o arroz com o caril mais liquido ou com as tais lentilhas, como o caril era muito picante optei pelas lentilhas...e se não tinha sujado o prato prístino com a minha desajeitada nova maneira de comer, então esta foi a gota de água, ao derramar o molho por cima do cagulo de arroz este começa a sair pelas asas da taça, muito controladamente como quem sabe o que está a fazer começo a misturar o molho com o arroz e a puxar para dentro aquele que teima em fugir. Antes de por a primeira colher de arroz à boca, o Claude alerta-me para um pequeno fragmento de chili verde que se posicionava mesmo onde ia colocar a colher, retiro-o para o lado e ponho a colher à boca "Não comi os acompanhamentos com o pão mas pelo menos encho a barriga de arroz", mas como estava enganada! Se da primeira vez que provei não achei o molho picante agora com o arroz aquilo parecia fogo na minha boca. Já ia a metade do segundo como de água.Tentei disfarçar e comer a bolacha salgada (que não tinha grande gosto) com o arroz que quase não tinha molho, o arroz com molho era fogo, mas sem nada era desenxabido. O Claude volta-me a aconselhar:
-Tira um bocado de iogurte e mistura no arroz.
E como obediente que sou assim fiz, até porque me pareceu uma boa ideia, uma vez que o iogurte iria acalmar o picante. Mas mais uma vez estava enganada, o iogurte é azedo (não sabe a azedo, mas não tem doce nenhum) ao qual não estou nada habituada. Só depois é que o Claude me disse que por vezes eles põem açúcar no iogurte =S
Enjoada, quase com vómitos e uma falsa sensação de estar cheia acabo a refeição não comendo mais que 3 pães fritos do tamanho de um pires de café e da grossura de uma folha de papel e não mais que 4 colheres de arroz. Com a viagem o meu estômago tinha reduzido de tamanho e agora não aceita muita comida. Chega a hora de pagar a conta, o Claude joga a mão à carteira e não tem dinheiro, embaraçado e pondo as culpas na mulher pede desculpa e acabo por ser eu a pagar o meu almoço (mais tarde ele devolveu-me o dinheiro). Finalmente chego à minha nova morada, uma espécie de condomínio situado no cima da colina com segurança no portão e tudo. Os prédios têm um ar velho por fora mas são bastante bons comparados com alguns que vi durante o caminho. Subimos 2 lances de escadas com a minha mala de 28kg e dou de caras com a porta do apartamento aberta, pelos vistos não é só a "minha casa", mas serve também como escritório para a OFAI (organic farming association of India), a casa tem 3 quartos, dois deles servem de escritórios e o meu de dormida. À noite estou sozinha, mas durante o dia tenho a companhia de 2 homens e uma rapariga (que infelizmente ainda não consegui decorar os nomes). É com ela que tenho contado para me ajudar a descobrir como funcionam as coisas cá em casa. O Claude é muito simpático mas deixou-me desamparada, são estes 3 novos "companheiros" de casa que me têm ajudado em tudo. Vou então conhecer o meu quarto, eventualmente vou ter de partilhá-lo alguns dias com uma rapariga que cá vem de vez em quando também da OFAI, mas pelo menos assim sempre tenho companhia. E esta é então a minha casa.
Este é o quarto onde estou a dormir (como se pode ver pela desarrumação)

Chuveiro

Resto da casa de banho



Cozinha em estilo minimalista, um bico de fogão a gás, poucos pratos e panelas e mini frigorífico.

E aqui é a sala, transformada em sala de reuniões e meu futuro posto de trabalho.

A minha cama.
Ao inicio tive receio do colchão por ser um pouco duro, mas depois de lá dormir até é bastante confortável. A cama é feita apenas com um pano por cima do colchão, não há necessidade de mais nada pois o calor é muito. Felizmente em todas as divisões há ventoinha no tecto. Apesar de as tomadas serem do estilo inglês ainda não necessitei do adaptador, pois as entradas estão feitas de maneira a que uma ligação de duas pontas entre (pelo menos aqui em casa).
Depois de cama feita, e de ser apresentada a toda a gente, o Claude deixa-me para poder descansar. É então que a rapariga me pergunta se tomo banho de água quente ou à temperatura ambiente, enquanto pensava ela foi buscar um aparelho, uma resistência, então com a rapidez que o meu pensamento ainda tinha consegui entender o esquema, enchia-se o balde presente na casa de banho com água e colocava-se a resistência lá dentro para que a água aqueça. Com medo da tal gerigonça e com o calor que tinha, disse que tomava mesmo de água fria para refrescar. E então lá fui, e foi a melhor escolha que fiz, a água sai quase quente da torneira devido ao calor, soube-me tão bem este banho de água "fria" que parecia outra. Deito-me na cama para dormir, ponho o mp3 com música para me sentir mais em casa, mas o sono não pega. Agora que tinha chegado e que a saga da viagem tinha terminado, que finalmente tinha conseguido aquilo que ando a lutar à tanto tempo, caiu em mim, estou longe da família e dos amigos, da minha terra, da minha língua, de tudo o que conheço, estou num sitio completamente desconhecido e completamente sozinha! As lágrimas começam a descer pela cara que nem cascata. E que nem uma criança pequena com medo só consigo pensar "Quero a minha mãe! Quero a minha cama! Quero ir embora!". Esquecendo tudo o que sonhei e aquilo que me trouxe aqui, só consigo pensar nas coisas negativas, e sinto-me cada vez mais sozinha e perdida. Na esperança de algum conforto, ligo o computador para falar com as pessoas que deixei para trás. Sinto-me mal por lhes dizer que estou mal, que não me sinto bem...mas não o posso dizer às pessoas daqui, e não consigo guardá-lo cá dentro. Sei que é o primeiro impacto, que me vou habituar...mas sinto-me sozinha à mesma. Para ter alguma companhia, ligo-me na Sic online e vejo a telenovela da tarde e o Boa Tarde enquanto me deixo adormecer pois já é bem de noite. Após algum esforço lá me deixo dormir, mas foi uma noite mal dormida. Sempre a acordar, e cheia de calor...Meu Deus o calor...mesmo com a ventoinha no máximo passei a noite toda a suar!!!
De manhã acordo mais bem disposta. Visto-me e penso que tenho de sair para comprar alguma coisa para comer, peço indicações aos meus "companheiros" de uma mercearia para poder comprar comida e eles indicam-me uma bem perto. Encho os pulmões cheios de ar e saio porta fora. Pelo caminho inteiro faço as cabeças virarem, por onde passo toda a gente fica a olhar para mim, sou completamente um Alien aqui, a única "branca". Chego ao mini-mercado (que não passa de uma banca na rua) e encontra-se fechado, o Claude anteriormente tinha-me mostrado onde eram os supermercados quando vinha-mos de carro, é claro que eu fixei ligeiramente o local, sabia que era lá em baixo, teria de descer a colina e depois voltar a subi-la com as compras. Como era primeira vez "sozinha no mundo" decidi não arriscar e ir a uns quiosques mais à frente, claro que a escolha não era muita, mas felizmente tinham massas instantâneas, batatas fritas Lays, bolachas de chocolate, e Pepsi, que foram as minhas refeições hoje, chá preto com bolachas para o pequeno almoço, massa instantânea de cogumelos para o almoço, batatas fritas para o lanche e massa instantânea de queijo para o jantar.
O meu jantar.

A rapariga disse que poderia me mostrar os locais onde poderia fazer as compras, mas que a moto dela não leva duas pessoas, mas um dos homens (o mais simpático) tem uma mota de dois lugares e já me disse que não se importa de ir comigo amanhã comprar o que preciso, que me leva a um sitio onde não tenho de regatear preços (mais uma coisa que tenho vergonha de fazer mas que tenho de aprender). Para distrair a cabeça, comecei já a ler tudo o que me deram, vim para a sala e montei a minha secretária aqui, perto da varanda e infelizmente perto da porta. Como a casa funciona também como escritório, durante o dia a porta permanece aberta, assim, todas as pessoas que passavam nas escadas podiam ver-me, por isso quase virei animal de zoo, pois todas ficavam a olhar para mim, mas daqueles olhares directos e sem vergonha, não levei a mal claro, e até achei uma certa piada. Depois de ficar sozinha, decidi que seria hora de fotografar o mundo à minha volta...
Vista da varanda

Vista ao longe

Vista da esquerda

Vista da direita

Disseram-me para a partir das 17h fechar as janelas porque há ratos...mas até agora só vi esquilos. =)

Pássaros a que eu chamo de "gralhas"...são a coisa mais comum aqui, porém fico sempre toda excitada quando os vejo. =)

Assim como as nossas gralhas, estas são muito barulhentas, é barulho o dia inteiro.

Mais um esquilito na palmeira ao pé da minha varanda.


Esquilo zombie =D

E pronto, foi hoje assim o meu dia. Que aventuras me esperam amanhã. =)

Viagem

Ora bem, já cheguei à Índia!!! =) Depois de 18h de viagem chego finalmente ao meu destino.
Em Lisboa, chegamos bem cedo ao aeroporto para fazer o Check-in (e já que vou viajar, que seja com os melhores, por isso Emirates aí vou eu =P), fico logo preocupada ao saber que afinal a mala não segue directa para Goa, e que vou ter de fazer novo check-in no aeroporto de Bangalore e pagar excesso de carga lá. Após um almoço que consistiu em uma tosta mista e uma mini garrafa de leite com chocolate (cerca de 6€), sigo para o embarque, e então começou a parte difícil, a despedida dos meus pais. Sou menina da Mama e admito, custou-me imenso deixá-los para trás e começar tão longe esta nova vida, em que eles não podem estar comigo. Após umas lágrimas, lá sigo para a porta de embarque, ao chegar deparo-me com quem? Nada mais nada menos que o grande Senhor Marco Paulo, e deixem-me que vos diga que não tem nada cara de simpático. Depois de uma hora de espera, entro para o avião e olho para tudo como um "burro olha para um palácio", encontro o meu lugar e fico surpreendida por tanta comodidade, ecrãs individuais com uma biblioteca de filmes, séries, música, audiobooks, rádios, enfim, nem uma volta ao mundo daria para ver tudo aquilo; manta para dormir, almofada, auscultadores e telefone individual que também controla a luz pessoal e a "televisão"...depois de me sentar caiu em mim, com tanta coisa, e afinal o assento em si não é assim tão cómodo. =\ O avião descola (e como tinham recomendado ia a mascar uma pastilha) e descubro que não são os meus ouvidos que me dão problemas, mas sim o meu estômago e os meus nervos...fico com a barriga colada às costas e quase que tenho um ataque de pânico, felizmente durou pouco, ao estabilizar comecei a sentir-me confortável, tiro os sapatos, desaperto o cinto e o botão das calças. Então começa uma longa pesquisa...onde é que se ligam os auscultadores??!! Não querendo dar uma de rapariga do monte não perguntei a ninguém, então começo discretamente a olhar para as pessoas que já os estavam a usar tentando perceber como os tinham ligado, e infelizmente não consegui ver nada =\ subitamente, olho para os bancos a meu lado e num deles reparo numa pequena figura "ahah...então é aqui!!!" eu já tinha olhado para os braços de apoio do meu banco, mas não vi nada que indicasse, e assim começo a minha busca sobre aquilo que quero ver durante as próximas 7h de viagem. Enquanto estou nesta busca, um simpático hospedeiro oferece-me uma toalha quente e com cheiro a limão, mais uma vez não fazia a mínima ideia para que é que aquilo servia, então discretamente olho à minha volta, e vi toda a gente a limpar as mãos..pensei para mim "isto é um pouco estúpido" tendo em conta que vamos começar a viagem agora, mas lá me juntei ao resto dos passageiros e fiquei com as mãos bem perfumadas a limão. Passado uns minutos mais uma entrega, desta vez era o panfleto com o menu: entrada, salada de massa com tempero português azeitonas e queijo feta (e mais uma vez pensei para mim, "o queijo feta não é português"), seguido de caril de borrego ou peito de frango assado com puré, molho pimenta e legumes (escolha óbvia, frango, para comer caril mais vale comer onde ele é realmente bom, na Índia), de sobremesa uma compota de maça com natas e crumble (sim, eu não sei para que servia a toalha mas sei o que é um crumble) e bolachas de agua e sal com doce de morango. Depois de vista a ementa, lá escolhi o filme. Mais uns minutos, e aproxima-se o simpático hospedeiro, com um pequeno snack salgado e uma bebida. Encostei-me, e fui aproveitando a viagem. Ainda eram 16h(em Portugal) e já eu estava a viajar de noite. Então pensei, se calhar mais vale aproveitar e vou tentar dormitar um pouco, escolhi um cd de "Relaxation" e fechei os olhos. É óbvio que dormi muito pouco! Já perto da chegada voltaram a dar umas bolachinhas e uma bebida, e de novo a toalha (agora sim fazia sentido). Ao olhar pela janela vejo as luzes das cidades lá em baixo, era um mundo mágico negro pintalgado de laranja, amarelo e branco (assim como o tecto do avião a imitar as estrelas). E eis que ouço a voz do piloto, "Ponham os cintos que vamos começar a descida"...estava a chegar ao Dubai!
Desço as escadas e entro num pequeno autocarro, andámos cerca de 15min às voltas até chegarmos à porta das chegadas. Ao passar aquelas portas, entro num novo mundo, milhares de pessoas à minha volta sem saber para onde ir, até que oiço uma voz meio abafada pelo barulho da multidão
- All transfers to this gates.
... e lá fui eu em direcção a essa voz. E agora?! não havia placas, nem letreiros nem nada que me indicasse o que fazer a seguir, procurei alguém que me parecesse de ali para ir perguntar. então lá encontrei um rapaz todo bem fardado (mas com metade do meu tamanho) e pedi-lhe indicações,
 - É só subir que encontra indicações.
... agradeci e sorri (simpatia calha sempre bem), e lá me dirigi para o sitio em que apontou, subi as escadas olha à minha volta, e mais uma vez, nada que me indicasse para onde seguir, vejo duas raparigas sentadas e com ar de quem trabalhava lá
- Podem dizer-me como vou para a porta de embarque?
.. e qual o meu espanto quando oiço...
- Basta subir que encontra indicações.
 Outra vez!!! Pelos visto ainda não tinha subido o suficiente, mais um lance de escadas (e sempre com a minha mochila de 7kg as costas e botas de campo nos pés). Finalmente, ecrãs indicativos e placas para me orientar, lá descobri qual a minha porta de embarque e reparo na ultima coluna do ecrã "Tempo a pé", e a minha porta correspondia a 15min a andar a pé desde o sitio onde eu estava até à porta de embarque =S já que era para andar (e eu estava toda trocada com as horas) mais vale fazê-lo rápido, segui em frente que nem touro, à minha volta montes de lojas e imensas pessoas a comprar, qual Vasco da Gama ou Colombo, o aeroporto do Dubai metia-os aos dois lá dentro e ainda sobrava espaço. Apesar de ter de caminhar muito não dava para me perder, era só seguir em frente, finalmente vislumbro C21, a caminhada tinha terminado bastava esperar pelo próximo voo. Saquei do telefone, e para meu espanto tenho rede, telefono logo à mãe a dizer que cheguei e que está tudo bem. Entretanto, perco o Marco Paulo, pois viajava em 1ª classe, e não apanhou o mesmo autocarro que eu, apenas voltei a mirá-lo ao chegar à porta de chegada.
Volto a entrar noutro avião, mais uma pastilha na boca (não vá desta vez ser pior para os ouvidos) e tento achar o meu lugar, desta vez não ia tão espaçosa (no primeiro avião, eram 3 lugares e íamos só duas, aproveitámos o lugar do meio para colocar todos os apetrechos que nos são dados) já havia um senhor e uma senhora sentados, e o meu lugar era o da janela. O espaço da bagagem estava todo ocupado e tive de pedir ajuda a uma simpática hospedeira que gentilmente me colocou a bagagem num compartimento mais atrás. Fiz os senhores levantarem-se e sentei-me no meu lugar e pensei para mim "ainda bem que este voo é só de 3h40min", pois os lugares são apertados e o senhor do meu lado digamos que ocupava um bocado de espaço. Mais uma vez, as tais toalhinhas, e qual o meu espanto ao ver o senhor do lado e mais uns quantos a limpar a cara (boa, agora sim fazia sentido as toalhinhas), depois de um voo de 7h mais 2 de escala precisava de me refrescar, então imitei-os, esfregando bem a cara e os olhos e mais uma vez as mãos. Desta vez o menu era de pequeno almoço e não de jantar: Entrada uma salda de fruta, depois 3 escolhas, omelete de queijo cheddar com acompanhamentos, ovos mexidos com cebolinho salsichas de frango batatas assadas e molho de tomate, e qualquer coisa típica do Dubai que já nem me lembro do nome, pão doce com manteiga e um queque. Ao mesmo tempo que nos entregavam o menu, foi nos entregue também um papel para preencher-mos "India arrivals", olhei com cuidado para aquilo, era fácil de preencher, não sabia era o que fazer com ele e onde entregá-lo e para que servia. Como vi toda a gente a guardá-lo fiz o mesmo (virei macaco de imitação, lema da viagem "quando não sabes o que fazer, faz o mesmo que os outros"), voltei a por o cd de "Relaxation" e com o cansaço foi mais fácil adormecer, apesar de a qualquer barulho ou movimento acordar. Foi assim que acordei com uma hospedeira a dar o pequeno almoço ao meu companheiro do lado..."se calhar já perguntaram o que queríamos, e como estava a dormir não me perguntaram" e então feita "menina do monte" pedi à simpática hospedeira que queria comer também,
- Sim sim, os pequenos almoços vão já ser servidos a seguir.
...agradeci a informação e pus-me a pensar "quem será este marmanjo para ter estes privilégios??" enfim... Desliguei por mais uns minutos, e dou conta que agora sim estão a servir os pequenos almoços, tive de cortar as salsichas quase de lado e comer com a tigela na mão porque o senhor não me dava espaço de manobra para conseguir comer de faca e garfo.
- Apertem os cintos que vamos começar a descida.
...pela segunda vez estava a chegar a um novo país, e desta vez o nervosismo cresceu, lembrei-me que tinha de apanhar a mala, fazer novo check-in e que já estava na Índia, e também o maldito papel. O avião aterrou e oiço um casal a falar brasileiro "boa, é já mesmo a estes"
- Desculpe, o que preciso de fazer com este papel, pois é a primeira vez que venho à Índia?
- Basta preencher, e entregar logo ali na saída. Nós também temos de preencher, podemos ajudá-la.
Lá saí do avião, mas sempre com o coração aos pulos, por ter de ir buscar a mala em compartimento alheio acabei por perdê-los de vista. Ao entrar no aeroporto de Bengalore, deparo-me com toda a gente encostada às mesas a preencher os tais papéis "M****, não tenho caneta", olho em meu redor à procura de alguém a quem pudesse pedir, e então vejo o tal casal numa mesa, quase que sorri de alegria. Colo-me a eles, observo atentamente enquanto espero pela caneta. Depois do maldito papel preenchido, o coração bate de novo mais forte ao ver os senhores a quem o tenho de entregar sentados cada um em sua secretária e com cara de poucos amigos. Entrego o papel e espero que me deixe passar, mas não, desconfiado com a minha cara de "gandula" começa o interrogatório, porque veio, quanto tempo fica, porque não tem data de regresso, esta morada é do quê, o que faz, trabalha para o governo, enfim, o tipo de perguntas que me deixam com nó na garganta e se o meu inglês está enferrujado e não digo metade do que queria, com este nó então foi difícil de dizer uma palavras direita. Felizmente parece que as minhas justificações foram suficientes e o coração acalma, passo à fase seguinte, mais um raio-x à minha mala (com esta viagem é capaz de ter ficado radioactiva com tanto raio-x) e o meu pobre coração volta a bater, quase a querer sair para fora do peito "Agora é que vão ser elas, vão revistar o abastecimento de compromidos e afins", coloquei gentilmente a mala na passadeira, passo o detector de metais, espero pela mala....pego nela e vou-em embora!!! Nada, nadinha, mal olharam para mim. Respiro de alivio e sigo para apanhar a mala de porão. Inconfundível, grande, preta e toda mal embrulhada em papel aderente de cozinha. Espero ansiosamente que ela chegue mas sempre com receio que se tivesse perdido, mas não, ali vem ela, rolando calmamente na passadeira. Agora chegava a hora de trocar o habitual Euro pela nova Rupia, e sinto-me uma mulher rica, pois 4 notas tornaram-se em 20, e algumas com 1000 escrito nelas (1euro equivale a 0,012rupias). Ao seguir para o próximo Check-in, deparo-me à saída com mais dois homens com cara de poucos amigos, esperam que lhes entregue uma pequena parte destacável do "maldito papel", ao entregar o senhor olha para mim com ar de desconfiado
- Não é o suficiente, mas ok.
...pelos vistos houve partes que o tal casal brasileiro disse que não valia a pena preencher, mas que este senhora agora achava que eu não tinha preenchido por estar a esconder alguma coisa. Mas como me disse para seguir, perguntei-lhe apenas onde fazia o check-in e segui em frente. Mais uma vez, para conseguir chegar onde queria tinha de passar um segurança, desta vez penso que fosse da policia devido à farda. Volto a imitar as pessoas à minha volta e entrego-lhe o bilhete e o passaporte. Nem para mim olhou, mas deixou-me passar. Com este nervoso todo, a minha boca era um deserto com tanta sede "Ok, está na hora de fazer a primeira compra na India", pedi a agua e pedem-me 15rupias, ao mexer no dinheiro apercebo-me que só tenho notas de 100, basicamente estava a pagar 15cent com uma nota de100euros. Sentei-me um pouco para me acalmar e beber a água. Como não tinha noção das horas achei que era melhor esperar depois de tudo tratado, procurei o balcão da JetAirways e esperei na fila na qual fui abordada por uma senhora baixinha e loira a perguntar se sabia falar francês, como nem consigo arranhar no francês e ela não sabia inglês, a conversa ficou por aqui. Chega a minha vez, gentilmente colocam a mala na passadeira e o mostrador apresenta 28kg (quando eles só aceitam 15kg), como sabia que tinha excesso de bagagem já tinha a carteira na mão e estava pronta para pagar, mas a senhora entrega-me o novo bilhete com o passaporte e deseja-me Boa Viagem, desta vez fiquei tão incrédula que tive de perguntar:
-Não preciso pagar?
-Não.
-Ahh, ok. Pensei que tinha excesso de bagagem.
Sorri e agradeci. "Yeeiii."
Desta vez não tive de pedir indicações, estava tudo bastante bem sinalizado e cheguei num instante à minha porta de embarque. E ainda faltavam 2horas para a chamada. Como já tinha alguma fomeca, e sabia que não forneciam nada no próximo voo, armei-me em corajosa e decidi ir comprar comida. Ponho-me a olhar para as sandes à procura de qualquer coisa simples para não ter muito choque...mas não encontro nada! Todas as sandes contêm alguma coisa que acho que não será bom para aquela hora da manhã (pois enquanto em Portugal eram 5 da manhã, aqui já eram 9.30). Lá escolhi aquela que me pareceu mais suave, omelete com aipo e molho de alho, e ainda me ofereceram ketchup ao qual não recusei. Tive uma luta complicada com o pacote de ketchup mas lá o consegui abrir e por na sandes, na esperança de o seu sabor camuflar algum que eu desgostasse "Ehh, afinal não é assim tão mau" pensei eu na primeira dentada, à segunda já foi diferente, comecei a sentir o picante do molho, mas a fome era tanta que até me soube bem, valeu-me a bem-dita garrafa de água que tinha comprado anteriormente. Voltei para a porta de embarque, e tentei contactar a família. Tinha a rede toda, mas a chamada não se fazia, desligava-se automaticamente, as mensagens não eram enviadas e não conseguia ligar-me à net. Após várias tentativas comecei a preocupar-me, pois sabia que os meus pais esperavam ansiosamente por uma resposta minha e eu não conseguia comunicar com eles. Enfim, nada podendo fazer fiquei à espera da chamada.
Começava a última etapa da minha viagem, entrei no autocarro (no qual cedi amavelmente o meu lugar a uma senhora asiática com bebé ao colo) e fomos para o avião. Desta vez o avião era bem mais pequeno e qual o meu espanto quando vejo a senhora loira e baixinha a falar português com o marido, com tanta alegria por ver alguém português apontei para a senhora sorrindo de orelha a orelha(quase piscando o olho) e disse:
- Afinal fala português!
A senhora ficou a olhar para mim estupefacta e depois de alguns segundos lá me reconheceu e começou a rir.
Sentei-me mais uma vez ao lado da janela, e tinha mais uma hora de voo pela frente. O cansaço já era tanto que mal me sentei comecei a fechar os olhos, o avião ainda não tinha levantado voo e já estava quase a dormir, e assim vim ate quase a chegar a Goa. A aterragem foi bem mais brusca e mexida, mas finalmente tinha chegado ao meu destino, Dabolim. No autocarro, posiciono-me ao lado da senhora e a conversa começa: o que faz aqui, de onde vem, para onde vai...ao sair, desejámos uma boa estadia e nem nomes dissemos. Ao entrar no aeroporto começa o choque, Ganesha para um lado velas para o outro. Desço umas escadas e encontro o sítio para levantar a bagagem, não existe outra melhor expressão para descrever "pareciam formigas num formigueiro", indianos por toda a parte e alguns "brancos" perdidos no meio sem saberem muito bem o que fazer. Lá consigo chegar perto do tapete rolante, e já na India sê indiano, ao ver a minha mala cheguei-me à frente furando entre as pessoas peguei nela e pronto. Como tinha prometido uma fotografia da homem com o cartaz à minha espera, pus a máquina fotográfica ao pescoço, e posicionei o dedo, de modo a tentar tirar a foto sem que a pessoa desse conta. Ao sair pela porta do aeroporto, o choque foi ainda maior, mil e uma pessoas, todas com os olhos postos em nós e de cartazes na mão, varri cuidadosamente todos os cartazes com os olhos na esperança de ver o meu nome, como não era nenhum dos que estavam logo à frente continuei a andar sempre procurando o meu nome, até que finalmente tive um vislumbre

Goa Foundation
Ana Portugal
e o número do voo.
Rapidamente me aproximei e premi o botão da máquina enquanto me tentava apresentar. Este foi o resultado:

 Quem me esperava era aquele senhor ao fundo com calças pretas e camisa branca segurando o papel na mão, infelizmente fotos tiradas às escondidas não ficam muito boas.
Depois das apresentações, seguimos para o exterior onde o caos estava instalados, carros parados com gente a entrar, carros a querer passar, enfim um caos autêntico. O meu "motorista" pediu-me para ali esperar enquanto ia buscar o carro, e assim fiz, entretanto fui abordada várias vezes a perguntarem se queria um táxi.

Mais uma vez, foi uma fotografia tirada à socapa, para não dar uma de "turista". Entrei no carro e começa a maravilhosa viagem até Mapusa. Não tirei nenhuma foto, pois vinha a absorver tudo o que via, ouvia, cheirava e sentia. A condução na Índia, tem muito que se lhe diga, tal como os ingleses, têm o volante do lado direito e conduzem do lado esquerdo da estrada, depois ter traço continuo ou não ter é igual, desde que haja espaço, faz-se a ultrapassagem, e depois existem as buzinas...que servem para tudo, desde um simples "Olha que eu estou aqui", a um "desvia-te que quero passar" ou já como em Portugal "Cuidado com o que estás a fazer que eu estou atrás de ti". Se ultrapassa... apita, se vê um mota na berma da estrada...apita, se um carro está numa transversal para entrar...apita...enfim...pode-se dizer que foi das viagens de carro mais assustadores e divertidas que já fiz. E sempre é verdade, as vacas andam mesmo no meio da estrada e temos de lhe dar prioridade, da primeira vez que tivemos de nos desviar de mãe e filha e estavam calmamente a atravessar não pude deixar de sorrir. E os cães, vi imensos à beira da estrada e esses sim mal nutridos e mal tratados, a maioria deles cheios de sarna quase sem pêlo, foi chocante mas ao mesmo tempo já vinha preparada para isso. E com isto vem outra coisa para o qual já estava preparada, as necessidades, em Portugal é normal aqui e além ver um homem (que já mais apertadinho) encosta o carro à beira da estrada e faz o seu xixi, pois aqui também é normal, de 100 em 100 metros via-se um homem de costas viradas para a estrada e com ele na mão..uma das vezes até em pares. 
Por fim, chegamos a Mapusa!




domingo, 3 de novembro de 2013

Amanhã é o dia!

Amanhã é o dia em que uma nova aventura começa, uma nova vida no outro lado do mundo! Deixo tudo para trás e começo a viver de novo, posso ser quem quiser e como quiser. Sinto um misto de emoções que me percorrem o corpo, desde a alegria à tristeza, desde o êxtase à solidão.
Foi um dia para fazer malas e despedidas...senti um aperto no coração ao abraçar aqueles que vivem dentro dele, inevitavelmente lágrimas correram pelas nossas caras, num turbilhão de sentimentos...levo-os a todos comigo, cá bem dentro de mim... no fim, todos me dizem o mesmo, na esperança que eu acredite e para que eles próprios acreditem no mesmo, não houve uma única pessoa que ao se afastar de mim não dissesse (e eu sublinho por baixo):

"Vai correr tudo bem!"