segunda-feira, 31 de março de 2014

Netravali Wildlife Sanctuary

Último sanctuário...finalmente se acaba a aventura pelos Western Ghats. Desta vez não paro em Mapusa, vou directamente de Cotigao para Netravali...sendo um sanctuário relativamente recente ainda não possui infraestruturas para receber turistas ou qualquer outro tipo de visitantes...logo a minha estadia iria ficar por conta de uma Quinta de Especiarias, que possui pequenos quartos pelo meio das plantações. Eu fiquei com a Cinnamon Cottage. 


Tradicional, com paredes de lama e o chão batido com excremento das vacas, janelas e porta de canas e madeira. Nada disto para mim me incomodava, aliás a varanda com vista para a plantação era a melhor parte...passei a tarde do primeiro dia sentada, a olhar para a natureza à minha volta. O que realmente me estava a meter um "pouco de impressão" era o facto de a parte interior da casa ter acesso quase directo ao exterior...posso ser bióloga e gosto imenso de animais, mas é quando vou eu à procura deles, não quando estou a dormir e há a possibilidade de eles entrarem para a cama comigo. O telhado não tocava nas paredes, deixando espaço suficiente para insectos, rastejantes e afins entrarem, além dos espaços debaixo das portas e entre as janelas. 




O facto de haver marcas de garras paredes acima também não era muito reconfortante. Mas pronto, tinha de ser, tinha de arranjar coragem e aproveitar enquanto ali estava. Ahhh...mas o chuveiro era de água quente!!! 



Foi uma tarde cheia de emoções, o ver onde ia dormir, o descobrir que não havia rede telefónica ali, o facto de as coisas nesse dia não terem corrido bem de inicio, pois o RFO pelos vistos não estava à minha espera naquele dia e logo não tinha tomado as provisões necessárias para a minha chegada. Pequenos problemas que se acumulam às saudades e tristeza e que me levam a não querer mais ficar. Depois de me instalar, sentei-me na varanda, tudo à minha volta era natureza, as cores, os sons e os cheiros, deu-me para escrever, desenhar, pensar...Se não pensasse que à noite teria de dormir ali, tudo o resto era perfeito... No meio dos pensamentos, começo a ouvir um forte som a aproximar-se...sem perceber bem o som que ouvia, comecei a olhar em todos os lados, até que me apercebi que era rasmalhar de folhas mesmo no fundo do sitio onde estava..e de repente, vejo uma cobra com mais de 2 metros a fugir a 7 "pés", que mal tive tempo para a ver...do que fugia?? De outra cobra com quase o mesmo tamanho ou maior..que depois de se assegurar que a outra tinha realmente ido embora, voltou calmamente para o monte de folhas caídas ali ao pé. Aconteceu tudo tão rápido que nem tempo tive de pegar na máquina..apenas me lembro de dizer "Uooh...uoohhh..uuoohh" 



A Quinta tinha uma zona de restaurante, era hora de jantar e a noite já tinha caido...apesar de algumas lanternas pelo caminho, estava escuro que nem breu, peguei na minha lanterna e segui caminho...Por acaso, o responsável encontrou-me a meio caminho, ia buscar-me ao quarto, mas eu adiantei-me =)
Rapaz novo e com inglês perfeito, via-se que tinha hábito de falar com estrangeiros e que vivia para aquilo. Como era a única hóspede naquela noite, o jantar foi-me servido à mesa, caso contrário o restaurante funcionava como Buffet. A comida era muito boa, e ao contrário das Rest-Houses onde estive anteriormente, aqui nem se sentia o picante...mais uma vez, habituados ao palato de quem não tem hábito de picante, a comida era feita sem chilis. Sinceramente, eu até senti falta!!! O rapaz (e eu mal educada que sou nem lhe perguntei o nome...=\ ) sentou-se comigo para fazer companhia e conversamos enquanto eu comia, desajeitada, com as mãos. Uma das coisas que ainda não me habituei nestes sitios é a quantidade de comida...normalmente, trazem-me arroz, chapati, dhal (caldo de lentilhas e vegetais), caril, mistura de vegetais, e mais umas quantas coisas que eu nem sei bem...nas Rest-House e cottages onde estive, normalmente vinham as primeiras 4 coisas, mas aqui além da taça do arroz e dos chapati, deveria ter sem exagero umas 6 tacinhas com coisas diferentes, além da fruta no fim. Claro que nunca consegui comer tudo...
Após a janta, volto a dirigir-me ao meu quarto...e agora sim começava o meu sofrimento...Noite escura, isolada no meio da plantação, sem meio de comunicação com ninguém e sempre a pensar que algo iria entrar para dentro do quarto e ir para a cama comigo (sinto-me sozinha mas não é bem o tipo de companhia que queria)...Foi uma noite bastante assustadora confesso...além disso, uma árvore de caju que estava mesmo por cima do quarto, estava sempre a deixar cair os frutos, fazendo grandes estrondos ao bater no telhado e fazendo-me estremecer todas as vezes, além das marcas pelas paredes e das duas cobras que tinha visto pela tarde. Todos os sons me assustavam... não eram os bichos grandes que me assustavam, esses sabia que ficavam do lado de fora, mas os pequenos, esses tinham porta aberta por onde quisessem. Passei grande parte da noite a ver documentários da BBC - Human Planet, para animais já me bastava os que tinha à minha volta. A meio da noite, quando finalmente comecei a relaxar, tive de ir à casa de banho...passei por vários insectos, que apenas posso descrever como sendo uma mistura entre aranha e gafanhoto, que nem percurso de obstáculos..mas esses já os "conhecia" desde que tinha chegado (apesar de achar que havia alguns novos), olhei toda a casa de banho em volta para ver se havia "novidades" desde a última vez que lá tinha ido...pareceu-me tudo OK. Sentei-me, e assim que ia começar a fazer o meu xixizinho...passa-me um gecko (primo das osgas e dos lagartos) por cima dos pés a correr com quase 30cm desda a cabeça ao fim da cauda...sinceramente não sei o porquê de não ter gritado, porque a vontade não me faltou... o coração subiu-me à boca e tremia que nem varas verdes...ao ínicio não me apercebi o que era, e foi a surpresa que me assustou mais que o bicho em si...depois de me ter visto o que era, ri de mim própria, e da figura que estava a fazer (apesar de sozinha)... uma bióloga (e que diz que gosta de répteis) a assustar-se ou melhor a "cagar-se" de medo... O bicharoco lá saiu, mais assustado que eu,  e dirigiu-se para debaixo da cómoda do quarto...Sabendo que ele lá estava, já não tinha qualquer problema com ele... Desde que saiba onde estão, fico tranquila, a surpresa é que me assusta. Acabei por adormecer já passava das 5 da manhã e por cansaço, nunca sono tranquilo e abria a pestana de 5 em 5min quase que fazendo vistoria à cama e às paredes em volta. 
Às 7 começa o sol a raiar, e todos os pássaros das redondezas cantam de alegria. Ainda de pijama, sento-me de novo na varanda, observando os raios de sol a esgueirarem-se por entre as folhas das palmeiras e os passarocos a saltitar...Apesar da noite mal dormida, aquele cenário idílico e todo o ambiente que me envolvia fazia sentir-me rejuvenescida...
Às 8 dirigi-me novamente ao restaurante, e como havia novos hospedes desta vez tinha self-service. Uma espécie de crepes feitos com arroz fermentado (parece mau, mas é bastante bom), alguns vegetais, folhado de carne e doce caseiro de anánas...o melhor pequeno-almoço que já tive por aqui. Em todas as refeições tive a companhia de uma pequena gata, super dócil e sempre pedinchando algo para comer.



Segui então com o trabalho...fui conhecer o RFO do sanctuário, e fiquei completmente alegre ao saber que tal como Paresh, também este tem paixão pelo que faz. Conversámos imenso, mostrou-me os seus planos sobre as infraestruturas que quer construir e disse-me que eu já tinha idade para casar!!! Há duas coisas que oiço bastante desde que cheguei, às vezes directa, outras indirectamente...que tenho de perder peso, e que já tenho idade para casar!!! Na india não há subtilezas, se há algo de errado contigo eles dizem-te na cara...

Depois da "teoria" toda, fomos finalmente para o campo..,visitámos cascatas, trilhos, templos e até uma Plantação de Morangos que pelo percebi ser a única em Goa. Mais uma vez sendo tratada como Madame, os guardas ofereceram-me duas caixinhas de morangos (além dos que apanhá-mos e comi na hora, mesmo quentes eram deliciosos). 


Por motivos de força maior tive de voltar nesse dia para Mapusa...mesmo antes de me vir embora do sanctuário, para não desanimar a Natureza "ofereceu-me" uma muda de pele de uma cobra-de-vinha (Green whip ou Vine Snake) completa!!! (o que não é normal, normalmente só se encontram bocados). 


E assim termina a minha visita aos Sanctuários de Vida Selvagem em Goa. 

quinta-feira, 27 de março de 2014

Cotigao Wildlife Sanctuary

Após uma pequena paragem de 3 semanas para recuperar forças...sigo com as visitas aos sanctuários...Cotigao é o próximo, localizado no sul de Goa é dos sanctuários mais antigos. O carro vem directamente de lá para me apanhar, por isso desta vez não precisei de madrugar, e para meu espanto além do motorista vem também o RFO. Foram duas horas de viagem de silêncio, apenas interrompido pelo RFO para me perguntar o que eu queria para almoço. Tal como em Bondla, este sanctuário tem Cottages para os turistas que quiserem pernoitar dentro do sanctuário e um refeitório (como sempre refeições caseiras, e chá ao meio da tarde). Eu fiquei na Robin.  

Desta vez não tive Froggy na casa de banho...mas todas as noites apareciam formigas gigantes..porquê só à noite e na casa-de-banho??!! Pois não sei...mas tinha sempre de levar chinelos quando a meio da noite tinha de lá ir. 

Era já tarde na primeira noite quando sou acordada por um barulho bem forte lá fora...assustada mas curiosa dirijo-me à janela...abro-a com todo o cuidado e não vejo nada...mas o som está cada vez mais perto...ao íncio parecia no chão, mas conforme se aproxima parece vir das árvores mesmo em frente ao meu quarto, apesar das luzes continua demasiado escuro para se ver...com a curiosidade a matar-me vou buscar a lanterna, saio porta fora e com o pequeno feixe de luz vasculho as árvores de onde o som vem..e nada...já cansada e a pensar no dia que teria a seguir decidi dar as buscas por terminadas..mas antes, para poder mais tarde identificar o que era, resolvi gravar o som com a máquina fotográfica...e isto foi o que gravei (não há imagem, só som). (Por favor ouvir primeiro antes de continuar a ler)


Pergunteis aos guardas, disseram que era um Frogmouth (espécie de coruja), perguntei ao RFO disse que era provávelmente uma coruja que eles tinham reabilitado e que costumava voltar à procura de comida, perguntei a especialistas de aves e disseram-me que provavelmente era uma garça, até que por fim, alguém arranjou uma resposta que correspondia realmente ao som...não era ave nenhuma...era um macaco Langur (os que têm a cara preta) e o som era aviso de que havia perigo por perto (provavelmente um leopardo)...portanto aqui a cegueta, não viu o macaco nem o leopardo...sempre à procura para ver um e quando eles vêm para a minha porta não sou capaz de os ver!!! =\ 

É dos sanctuários mais bem mantido...sem lixo pelo chão, com boas áreas para os turistas e bem sinalizado...completamente diferente dos outros sanctuários. 

Finalmente consegui ver algo com peso superior a 2 kilos...no meu último dia, ao regressar das visitas pelo sanctuário, puder ver 2 javalis...fiquei completamente radiante =) Afinal sempre há animais por aqui...começava a pensar que fosse só um mito!!!


Nada de emocionante aconteceu (além da primeira noite) ...foram 4 dias bastante aborrecidos até...e chega a hora de seguir para o próximo!!!




terça-feira, 25 de março de 2014

Bhagwan Mahaveer Wildlife Sanctuary and National Park

4º Sanctuário aí vamos nós...mais uma vez dirijo-me a Panjim de madrugada. E mais uma vez calha-me o "Crazy Driver"...o mesmo motorista que tive uando fui para Bondla. A velocidade foi a mesma, o perigo foi o mesmo mas a distância foi quase o dobro. Apesar de algum receio, a viagem foi tranquila, ele sempre bem disposto, e o mau inglês dele com o meu mau inglês as conversas não se prolongava muito. 
Chegando ao destino, levam-me para os meus aposentos, que para minha surpresa estavam reservados para mim uma semana depois do que era suposto...mas a coisa lá se resolveu e tive direito ao meu quarto, que tal como em Mhadei ficava numa Rest-House. Duas camas só para mim e casa de banho privada, mordomo, todas as refeições caseiras e sempre ao meio da tarde chá trazido directamente ao meu quarto. E como não há 2 sem 3, também aqui tive não uma mas duas rãs na casa de banho. A primeira como foi para quarto pedi ajuda para a tirar, afinal o "Mordomo" matou-a à vassourada (se soubesse não tinha dito nada)...a outra, após descarregar o autoclismo, oiço qualquer coisa aos trambolhões pelo cano até que PLOFF...cai uma rã mesmo no meio da sanita, assustada com a viagem atribulada, a pequena salta e esconde-se no rebordo. Sem a conseguir tirar de lá, puxei novamente o autoclismo com esperança que a força da água ela descesse...Pois bem, a técnica resultou, mas resultou bem demais, a pequena foi cano abaixo. Desta vez as Froggy's III e IV deram-se mal. 

 No primeiro dia, uma vez que não estavam à minha espera, não tinham o almoço preparado. Então saí à procura de algum sítio para comer, e a sorte estava do meu lado, pois havia um restaurante/resort logo ali ao lado. Com tantas viagens, o tempo já longe da família, e o problema do almoço e da estadia (que não era grande problema) acabei por ficar emocionalmente de rastos. As viagens, o facto de passar tanto tempo sozinha, só poder falar com alguém de Portugal durante 5 min por dia e todas as provações que se têm atravessado no meu caminho, começavam a fazer mossa...passei o almoço a chorar.

Depois do almoço, e de uns minutos de reflexão lá consegui recompor-me e voltar ao trabalho. 

No dia seguinte tive uma das minhas maiores aventuras...o guarda-florestal que me estava destinado para aquele dia ia levar-me a ver uma cascata mesmo na fronteira com Karnataka, para isso teria de andar hora e meia..."tudo bem" disse eu...esquecendo-me que o terreno não é plano e teria de subir imenso. O caminho que deveria ser hora e meia levou 2horas!!! Morri 10 vezes pelo caminho mas valeu a pena...senti-me bem ao saltitar entre rochas, rastejar por debaixo de árvores caidas e outras passar por cima delas, agarrando-me a elas como se a minha vide dependesse delas...e dependia mesmo; caminhos estreitos e às vezes sem caminho nenhum, foi uma verdadeira aventura. Na recta final, tinha a derradeira subida e já podia ter vislumbre da cascata.


 Mais uma paragem para para recuperar o folego, e agora a derradeira descida para podermos chegar à base da cascata. Foi neste momento que tive realmente medo, sem caminho numa descida a pique com árvores caídas por todos os lados e terra solta a deslizar colina abaixo...sem nunca dar parte fraca segui em frente que nem touro enraivecido e finalmente...o merecido prémio...água fresca e límpida!!! Se não fosse a presença dos guardas teria me despido e atirado para debaixo da água fresca que corria cascata abaixo...mas assim, apenas molhei a cabeça e bebi, bebi até não puder mais!!!


E ali estivemos mais de uma hora, descansando (para o caminho de regresso) e apreciando a natureza à nossa volta. Felizmnete o caminho de regresso era quase sempre a descer, só levando 1h e 2 paradas para descansar. 
Mesmo com esta caminahda ao estilo BBC-Vida Selvagem os animais continuam a não mostrar sinais da sua presença. =( Tanto trabalho e aquilo que mais queria ver esconde-se melhor que o Wally. 
Claro que tanta caminhada teria as suas consequências, surpreendentemente não tive muitas dores musculares, mas os meus calcanhares sofreram e bem, bolhas que rebentaram e se transformaram em feridas, continuar o trabalho seria complicado mas teria de continuar. No dia seguinte, mais um trilho para percorrer, desta vez com 7km (só de ida, logo 14km no total)...pomada para a ferida não secar, pensos rápidos, lenços de papel e fita-cola castanha e tinha o penso feito, pronta para seguir viagem. O que me valia é que o trilho desta vez estava bem demarcado, e era praticamente sempre plano, não fazendo força nos calcanhares lá o consegui fazer, coxiando aqui e além mas consegui =)

Infelizmente a ferida não estava a querer sarar, logo não consegui fazer o resto dos trilhos a pé, apenas visitei o que era possivel ir de carro. 

Continuando no tema das cascatas e das frustações...Dudhsagar Waterfalls, as cascatas mais "turisticas" de Goa, e são lindas, onde na sua base há uma pequena piscina natural onde toda a gente se refresca....


Dudhsagar signifca "Rio de Leite" ..é óbvio o porquê deste nome, a cor branca que escorre pedras abaixo só dá vontade de nos entregar-mos à sua frescura nos dias de calor torrado que se fazem sentir. Claro que toda a gente não inclui a mim, como ia em trabalho não podia simplesmente tirar a roupa e saltar para dentro de água...mas não me sai da memória, quero lá voltar e vingar-me, passando o maior tempo possível dentro de água =) 

Pois foi neste sanctuário e neste dia que me acostumei a ser "Madame", todos me tratam por "Madame" e o guarda-florestal ao me ver de manhã até bateu continência, além das mordomias já referidas como o chá me ser levado ao quarto. 

Foi também aqui que reparei que a minha "chama" estava a desvanecer. Apesar do entusiasmo da primeira caminhada, tudo o resto agora é igual para mim, sem animais, muitas caminhadas e viagens, muito contacto com pessoas (que não é o que eu mais gosto de todo) e pouca Natureza. 
O desejo de sair desvaneceu, e só penso em voltar para Portugal. 

quinta-feira, 20 de março de 2014

Mhadei Wildlife Sanctuary

Desta vez a boleia veio ter directamente comigo...às 8.30 da manhã eu, a minha super-mala e a Mallika (rapariga que me acompanhou e que também esteve em voluntariado com a Goa Foundation) esperávamos pacientemente pelo Ranger Forest Officer - Paresh Porob. Ao contrário dos RFOs que tinha conhecido anteriormente, este é realmente apaixonado pela Natureza, Vida Selvagem e a sua Conservação. Foi das viagens e das maiores conversas que já tive com qualquer membro do Departamento de Florestas. Foi um dos membros fundadores deste santuário e leva a peito o seu trabalho. 
Após uma viagem de hora e meia chegamos finalmente aos Western Ghats: colinas, montanhas, picos e vales cobertos por um verde que nos prende o olhar. Uma vez que o santuário é recente (foi criado em 1999) as instalações ainda não foram propriamente criadas, então o nosso pousio foi a "Rest-House" mantida pelo FD. Uma espécie de pousada mas apenas destinada aos membros do FD. Não pensei de ter tão boas condições, um quarto com duas camas, e casa de banho privada; uma sala com vários sofás e televisão (finalmente vi um pouco de TV desde que cá estou...e qual o canal escolhido - National Geographic), mesa de jantar com vários lugares e a cozinha que não estava propriamente aberta ao 'público', e para nos servir uma versão indiana de Mordomo, cozinhava as nossas refeições, atendia a todos os nossos pedidos e até nos trazia o chá ao quarto. Não podia esperar melhor...até no dia em que me apeteceu chamuças para o lanche ele fez o favor de as ir comprar com paezinhos a acompanhar. E mais uma vez a natureza veio até mim...na primeira noite depois de já preparada para dormir, a Mallika chama-me, e pela segunda vez havia uma rã na casa-de-banho, se fosse por mim não havia problema mas a Mallika não parecia muito disposta a partilhar a casa-de-banho com esta nova companheira de quarto. Então a saga começou, mas também durou pouco tempo, encontrando um burado na parede a Froggy II esgueirouce por lá e não fomos capazes de a apanhar...Nunca mais a vimos!!
Na primeira tarde fomos ver um pouco do santuário, e como o veiculo do FD não estava disponivel o Guarda Lindsay e um dos seus ajudantes levaram-nos nas suas motas...É uma experiência completamente diferente, consegue-se ver muito mais, cheirar muito mais, sentir muito mais a Natureza à nossa volta...e ali andámos colina acima colina abaixo até quase ao anoitecer. 

Foi neste santuário que tive o primeiro vislumbre daquilo que realmente me rodeava apesar de não os ver...de acordo com o RFO, fomos os primeiros 'civis' a ver de perto as pegadas de Tigre que tinham documentado recentemente ali, assim como alguns dos sítios que é sabido estes majestosos animais descansarem...não vi nenhum, e se isto foi o mais perto que alguma vez irei estar de um tigre...então já fico completamente contente. (Apesar de que a adrenalina de ver um tigre no seu meio seria uma coisa do outro mundo)




Este foi o Santuário em que me senti mais confortável, tanto o RFO como os Guardas Florestais eram todos extremamente simpáticos e tratavam-me como Rainha. Abriam-me a porta do carro para entrar e sair, nos dias em que saimos cedo para o campo e o "mordomo" ainda não tinha preparado o pequeno-almoço levavam-nos  para comer num café local, para mim baseava-se em pão doce e chá com leite (ainda não consigo comer bhaji logo pela manhã - uma espécie de caril de vegetais mas um pouco mais leve), e eram eles que pagavam sempre. Houve um dia em que saimos com 3 guardas, Lindsay que nos acompanhou todos os dias e os guardas respectivos das zonas que iria ver nesse dia, levaram-nos a tomar o pequeno-almoço, comprarm sumos pelo meio da manhã para matar a sede, e acabámos por nos alimentar do entusiasmo uns dos outros, pois eles estavam empenhados em mostrar tudo o que a sua zona tinha de melhor, aliás queriam levar-nos a zonas que o RFO não achava muito jeito de nós irmos devido ao perigo de sanguessugas (o que para mim foi triste, pois queria experimentar a sensaçaõ =) ). A hora de almoço chegava mas o entusiasmo era tanto pelas duas partes que acabamos por continuar nos caminhos dos Western Ghats sem ver que a barriga dava horas. Foi já por volta das 2 da tarde que acabámos por passar numa plantação de coqueiros...e mais uma vez a simpatia de todos fez-se notar, pediram para irem apanhar côcos para nós...já tinha bebido água de côco e não achei grande coisa, pois esta foi a água de côco mais deliciosa que já bebi...
Com a destreza própria que advém dos anos de prática o rapaz subiu ao coqueiro que devia ter a altura de uma casa de 3 andares com uma rapidez incrivél, sem corda nem nada que o ajudasse além das suas mãos e pés!





Doce e completamente refrescante...Além do côco que nos deram ainda encheram uma garrafa para levarmos para casa. Depois de toda a água bebida, chegava a hora de comer...abriam o côco ao meio e com uma colher 'natural' era só o raspar o interior...Divinal!!!


Eram 4 da tarde quando chegámos a casa para almoçar...mas foi um dia em cheio!! =)

Certo dia o RFO veio jantar à Rest-House...além de nós havia 2 casais a passar umas férias, um dos senhores teria sido um ex-RFO para o FD, agora reformado e infelzimente já debilitado gostava de passar uns dias perto das áreas onde tinha trabalhado. Sabendo o trabalho que estava a realizar, não consiguiu deixar de falar comigo sobre as florestas, o tempo em que lá tinha trabalhado, e claro sabendo ser portuguesa falou do tempo em que os portugueses reinavam por aqui. Devido à sua presença, Paresh veio jantar com eles (por hábito eu e Mallika comíamos antes do resto das pessoas da casa, nunca chegámos a perceber porquê). Após o jantar, Paresh e Lindsay levaram-nos numa 'visita' nocturna pelo santuário, foram mais 2 horas de conversa...a história que mais me marca a memória foi a de como o Paresh conseguiu descobrir o caçador responsável pela morte de um tigre no sanctuário através de uma fotografia num jornal. 
Promenores já me escapam da memória, mas foi autêntico caso de CSI: Um jornalista mal intencionado publica a fotografia de um tigre morto no santuário, dando alerta para o caçador se pudesse escapar. Com a fotografia, Paresh descobrir o número de Pixels da máquina/aparelho que teria tirado a foto. Descobriu que era de um telemóvel, com isto viu os preços de telemóveis e a capacidade das pessoas da vila ali perto para os comprar, diminuindo as hipóteses para um. Com pessoal infiltrado, descobriu quem na vila teria tirado a fotografia, chamando-o para interrogatório. Contudo, a fotografia era a única prova da morte do tigre, precisava de descobrir o local para tentar encontrar mais provas. Através de indicios visuais como musgo, ribeiro e formações rochosas na fotografia, montou equipas para vasculhar as áreas. Após encontrar a área, descobriu sinais de uma fogueira com restos de um animal, mas porém o tamanho de um osso no meio das cinzas apontavam para algo mais pequeno, os testes de ADN vieram a revelar que era um cão. A fogueira tinha sido feita para despistar o local certo onde o animal teria sido morto. Ao sentar-se numa rocha, e por ironia do destino, descobriu um maço de cigarros vazio. A busca ai teve novo rumo, procurar ali perto por pontas de cigarros. E foi assim, que deram com o local exacto onde o tigre tinha sido morto, era uma armadilha de arame para caça mais pequena, javalis ou veados (apesar de ser extremamente proibido caçar dentro dos santuários), o tigre teria ficado lá preso e tanto fez força para se soltar que o arame acabou por lhe cortar a barriga. Contudo o culpado ainda estava por prender. Com o autor da fotografia sobre interrogatório e com os agentes infiltrados, lá conseguiu descobrir quem era o autor da armadilha (e pelos vistos já recorrente). Era sabido que o culpado já tinha fugido, possivelmente para o estado vizinho, Karnataka, para casa de familiares. Então Paresh montou equipas nas casas de todos os familiares próximos daquela área, e conseguiu apanhar o culpado. 

Infelizmente nessa noite a sorte não estava do nosso lado, pois não chegámos a ver nenhum animal. Já passava da uma da manhã quando demos a noite por terminada, e combinamos uma nova busca logo pela manhã cedo, 6h foi a hora combinada. Cerca de 5 horas de sono parece pouco, mas o meu entusiasmo era tanto que o despertador ainda não tinha tocado já eu estava bem desperta, ao contrário de Mallika que quase tive de a arrancar da cama. 
Paresh levou-nos para uma caminhada numa das partes mais 'intocadas'. Mais uma vez, conversa não faltou, histórias por parte do Paresh, histórias da minha parte, o nosso passado e o futuro da Conservação. Foi das pessoas que mais me deu gosto conversar. Nesse mesmo dia Paresh teria de voltar para Panjim, pois no fim-de-semana iria receber uma Medalha de Honra e tinha preparativos a fazer. Como eu também tinha terminado o meu trabalho, esta viagem acabou como começou, Paresh tranzendo-nos de volta a Mapusa. 



Contundo esta vida de Ranger não é só coisas boas, muitos rangers são mortos em serviço por todo o mundo. Infelizmente os caçadores furtivos querem os ver mortos assim como aos animais que caçam. Aqui na India não chega a isso, mas Paresh têm vários processos em tribunal por cumprir seu dever em proteger as 'suas florestas', postos por caçadores ou outros infractores que dizem que ele lhes destruiu a vida. 

Reportagem fotográfica completa:
https://www.flickr.com/photos/lotustigrespavoes/sets/