quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Bob Marley e o Sexto Sentido

      Não cheguei a contar como é que cheguei a vir para a Índia. Pode ser do conhecimento de muitos, mas poucos sabem a história toda.
      Pois bem, começou em Abril de 2013, cansada de nunca mais arranjar trabalho na área a busca por outra coisa qualquer começou. Sabendo de uma vaga num restaurante em Grândola, foi essa a minha primeira paragem, e passados 2 meses, recebi o tão esperado telefonema, ficando acordado eu começar 3 dias depois. Ironia do destino, na tarde desse mesmo dia recebo outra oferta, apesar de já ter dito que sim no restaurante fui à mesma ver de que se tratava. Era um trabalho numa loja de roupa que iria abrir. Então começou o grande dilema, qual seria a melhor opção...vendo as condições é óbvio que o restaurante seria a escolha acertada, mais ainda depois de várias pessoas me "aconselharem" que a dona desta nova loja não era uma pessoa de confiança. Mas chamem-lhe coração, sexto sentido ou instinto, o certo é que algo me puxava para esta loja, e afastava do restaurante, durante 2 dias foi uma luta interna constante. E contra tudo e todos, segui o meu sexto sentido e aceitei. Só depois de dizer o "sim" consegui realmente descansar o meu nervosismo. E após 3 semanas a trabalhar lá...a loja fechou! Ouvi muitos "eu bem te disse"...ok, posso não os ter ouvido, mas "senti-os". 
    Com o desespero de não ter trabalho, outra vez, decidi pegar no maravilhoso mundo da Internet e pesquisar por organizações dentro da área da Biologia e da Conservação. Perdi a conta ao número de emails que enviei para todos os cantos do mundo, pedindo que me dessem trabalho, trabalharia de graça desde que me dessem comida e cama. Alguns responderam, outros nem por isso. A maioria das respostas eram positivas, mas ao contrário daquilo que eu pedia, em todos tinha de pagar para poder trabalhar (de borla). Até que numa manhã recebi o email da Goa Foundation, em que dizia que apesar de funcionarem à base de donativos, poderiam tentar dar-me uma "mesada" para a comida e alojamento, pois estavam a precisar de um Biólogo da Conservação, dependendo de alguns factores. 
      Passados alguns dias, recebo um telefonema a dizer que o Raposo (restaurante em que já tinha trabalhado anos atrás) precisava de alguém. Como ainda não tinha a certeza de nada, fiz as malas e parti rumo a Sagres para um Verão cheio de trabalho, "gerir" uma cozinha e ainda ter de lavar a louça foi bastante mais cansativo que o ano em que lá tinha trabalhado, apesar de o movimento ser muito menos. Com a esperança a enfraquecer, recebi o derradeiro email "Gostaríamos que viesses trabalhar connosco por 1 ano"! Entrei em transe, não sabia se havia de rir ou chorar, apenas dava pequenos gritos (perguntem à Atchoi, ao Xupa e à Margarida). O meu destino estava traçado...se não tivesse ido para a loja, não teria mandado os emails! E foi assim comecei a confiar no meu sexto sentido, foi ele que me trouxe aqui hoje à Índia, e ao shack Papai's Fishermen Cafe. 
       Dias antes a Linessey trouxe-me à praia e ao percorrer-mos uma fila interminável de shacks, foi este que me chamou (mais uma vez o sexto sentido levou-me ao sitio certo), e qual o meu espanto ao ver a cara do Bob Marley pendurada logo à entrada e ouvia-se um bom reggae de fundo. 
      Hoje decidi vir sozinha, os últimos dias não têm sido fáceis, e um bom dia de praia regado com sumos naturais seria bom para relaxar. 
      Mais uma vez, ao percorrer a longa fila à procura do sitio perfeito para passar o dia, foi o Papai's que me voltou a chamar e não foi por acaso.
      Ao contrário do resto dos shacks este não tem multidões, nem música comercial ou vendedores sempre a impingir-nos coisas, tem um ambiente descontraído, familiar e acolhedor. Senti-me à vontade para deixar as minhas coisas a cargo do staff e mergulhei no Mar Arábico. Conheci e conversei com alguns dos membros do staff e tive longas conversas com o próprio Papai, descontraído, simpático e ressacado, ele e a mulher dele (inglesa). Têm uma filha adorável. 

Ao almoço, uns belos King Prawns com manteiga e alho e para terminar um Daiquiri de Morango.

Senti-me finalmente em casa e com pessoas que são mais parecidas comigo do que as que tenho conhecido na Índia até agora.
O Bob canta na música de fundo, o Sol aquece-me o corpo e as pessoas a alma!


(Escrito in loco)

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