domingo, 19 de janeiro de 2014

Bondla Wildlife Sanctuary

O dia começou bem cedo...às 5.30h da manhã toca o despertador...visto-me, arrumo o resto das coisas e faço-me à estrada! Com o medo a acelerar o coração, e a adrenalina a aumentar sigo rua abaixo ainda com noite cerrada, já se começa a ver movimento nas ruas (apesar de mal iluminadas), as suas cabeças viram ao verem-me passar na rua..roupa esquisita carregada com malas e pele branca reluzente!!! Afinal o perigo veio de quem menos esperava, um canito dormindo acordou ao ouvir-me passar e do nada desata a correr atrás de mim e a ladrar chamando os amiguinhos todos, sem nunca olhar para eles continuei o meu caminho, mas quando dei conta já tinha 4 cães atrás de mim...ao fim de 500metros acharam que já chegava e foram à sua vida mas ainda remoendo!!!
Chego finalmente à paragem dos autocarros, ao contrário do que é habitual devido à hora matinal, deparo-me com silêncio e calma total...apenas alguns dos autocarros davam luz ao caminho. Após 30min de viagem chego a Panjim, ao por a mochila ao ombro a alça parte-se..."Não faz mal, agora ando com estilo, com a mochila só num ombro". Felizmente uma Moto-táxi aproximou-se rapidamente, e segui a minha viagem...e por estranho que pareça e ao contrário do que estava à espera o taxista foi completamente "honesto" e pediu um preço completamente razoável (aquela hora da manhã, uma rapariga branca e ainda por cima carregada, estava à espera de um preço bem mais alto). Ao descer da mota, ironia do destino, a outra alça parte-se "Agora sim tou lixada (não foi bem isto que pensei mas não quis ferir susceptibilidades) como vou fazer para andar no meio do mato sem mochila??!!" Como o meu "motorista" ainda não tinha chegado, sentei-me com calma, e pus-me a olhar para os estragos...afinal havia maneira de arranjar...passava agora  a ter o sonho de qualquer miúdo "dredd": uma mochila sem o regulador do tamanho das alças, em que a cada paço a dita cuja bate no rabo sendo bastante desconfortável e barulhento, ainda para mais completamente cheia com o computador, máquina fotográfica, disco externo e outros apetrechos electrónicos...mas ao menos tinha uma mochila "funcional".
5min, 10 min, 20, 30, 40min passaram e nada de motorista...finalmente decido que é melhor ver o que se passa..e o meu medo da noite anterior tinha-se realizado, ninguém tinha providenciado o motorista para me levar para Bondla. Felizmente, assim como parece que tenho alguém a jogar-me pragas parece que também tenho uma estrilinha que me ajuda e remedeia as situações complicadas. Bastou um telefonema e tinha motorista à minha disposição. Pois então, calhou-me o Segurança Nocturno do Rescue Center ali perto "Boa, dão-me uma pessoa que passou a noite sem dormir para fazer uma longa viagem"!!! A viagem foi feita a alta velocidade, e um caminho que demora hora e meia a fazer demorou 45min...e só no fim vim a perceber porquê...o rapazito às 9.30 tinha um part-time como motorista que ninguém sabia...e nós abalámos às 8 de Panjim. Estranhamente, apesar de toda aquela velocidade e manobras perigosas o meu coração manteve-se calmo e o medo acalmou...Acho que o facto de não saber como fazer as coisas é pior para mim do que andar numa estrada com trânsito louco a 100km/h.

Finalmente Cheguei!!!



Foi-me então apresentado o meu quarto para os próximos dias...esperava um quartinho simples mas quando vi o que me esperava os meus olhos até brilharam...



Um quarto redondo, com cama ao centro e janelas a toda a volta...Era óptimo acordar de manhã, olhar pelas janelas e ver toda a Natureza a acontecer lá fora!
As refeições foram providenciadas pelo restaurante que dá assitência a todos os Bungalows do Sanctuário. 
O resto dos quartos disponiveis estavam ocupados por um grupo de Yoga...o Professor vem todos os anos com um grupo para aqui numa espécie de retiro espiritual, vêm de todos os cantos do mundo...quando os vi todos juntos pela primeira vez ao jantar, a vontade de me juntar a eles era enorme...queria saber tudo sobre eles, queria ter a paz que eles tinham estampada nas suas caras, queria o conhecimento e a vida que eles têm...infelizmente o cansaço era tanto que a única coisa que consegui foi arrastar-me até ao quarto e jogar-me para a cama. Durante esse dia visitei o Zoo e os Jardins..e durante a tarde fiz o trilho pelo meio da floresta. Isto pode não parecer muito, mas tendo em conta que toda a área é de serros, andar 100 metros parecia 1km. Principalmente a parte do trilho..pedras soltas, árvores galhos e ramos, e inclinações de 50%...não foi pera doce!!!
No segundo dia, ao pequeno-almoço fiquei a saber que o grupo tinha entrando em Meditação e por isso iriam ficar em Silêncio nos próximos 3 dias "Lá se foi a minha oportunidade de falar com eles"
Mesmo até naquele silêncio eu queria juntar-me a eles...não sei...mas a ideia de passar 3 dias sem falar com ninguém...ficar sozinha com os meus pensamentos pareceu-me uma óptima ideia...o que até é estranho, pois Solidão é sentimento constante desde que cheguei.  
Após o pequeno-almoço, uma omelete simples (simples para eles é com tomate, cebola e pimentos picados), pão torrado e Chá de gengibre com leite...um boost de energia perfeito para começar o dia...Peguei na minha máquina e sai para explorar a estrada sozinha...



Veados, macacos, borboletas e aves, todos eles me cruzavam o caminho...Em silêncio (tirando o barulho da mochila a bater-me no rabo) todos eles me aceitavam perto e toleravam a minha presença, mas constantemente se ouvia o barulho das buzinas e dos motores dos carros que iam para o Zoo. O trânsito e barulho são constantes neste sanctuário...
Foi uma manhã repleta de fotografias e de satisfação pessoal! A nível profissional..nem por isso...talvez por ser mulher, talvez por ser branca...talvez por ser uma mulher branca, senti que não me levavam a sério, nenhuma das minhas perguntas foi levada a sério, e algumas nem obtiveram resposta!!! Foi extremamente frustrante ser empurrada de Ranger, para Guarda, para Assistente, para Ranger outra vez...ninguém queria responder, ou tinha medo de responder...
Na manhã do terceiro dia, voltei a por a máquinha ao ombro e segui na direção contrária, desta vez para ver o lago dos Crocodilos..infelizmente só vi mesmo o lago...


Já sabia que tinha gosto pela fotografia, mas durante estes dias ainda mais viciada fiquei...dei por mim fixada em conseguir a melhor fotografia que conseguia das caras dos animais, ou das expressões/sentimentos que me transmitiam...foi por isso que criei o albúm "Looking the Animals in the Eyes" no Facebook...assim toda a gente pode dar a sua opinão sobre o que sente quando um animal lhe olha directamente nos olhos!!! 


Ahhhh..e para terminar quero contar a história do Froggy!!! Froggy foi o meu companheiro de quarto (ou melhor de casa-de-banho). Ao chegar no primeiro dia, desfiz as malas e dirigi-me à casa de banho para fazer o meu xixi...depois da bexiga aliviada, levanto-me, e qual o meu espanto quando ao jogar a mão ao autoclismo vejo uma pequena rã confortávelmente sentada no assento da sanita...

A verdade é que não sei se ele já lá estava quando me sentei, ou se saltou quando me levantei..o certo é que o Froggy teve durante dia e meio vista previligiada das minhas partes intimas... Como não me importava que o bixaroco andasse por ali, segui com o que tinha a fazer e deixei-o lá...quando voltei já não o vi...vim mais tarde a reparar que cada vez que despejava o autoclismo via uma pequena pata a escorregar, tinha-se escondido no rebordo da sanita por onde sai a água...sem maneira de o fazer sair...deixei-o ficar...partilhando a sanita com ele...quem saía a perder era ele! Finalmente, no meio do segundo dia, achei por bem que seria melhor devolvê-lo ao seu meio natural...se não o tirasse dali sabe-se lá quanto tempo o bixo iria viver numa sanita, além de que comecei a ter medo de o mandar pelo cano abaixo cada vez que despejasse o autoclismo...e sinceramente acho que uma sanita não é casa para ninguém, nem mesmo para uma rã! Lá arranjei um pau e fiz com que saísse do seu esconderijo..saltou cá para fora...andámos a brincar ao Gato e ao Rato pela casa de banho toda..até que finalmente o agarrei e o fui deixar no jardim...Agora pensando bem...só espero que o Froggy não fosse uma Ela...e não tenha achado a sanita um bom sítio para pôr os seus ovos...Ups..devia ter visto ser havia ovos!!! =| 



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Agora começa a Aventura

Eu sei que já há bastante tempo que não escrevo...mas as coisas têm estado bastante calmas, e tudo começa a parecer bastante normal, pequenas coisas que achava diferentes e engraçadas agora são banais e deixo de lhes prestar tanta atenção. Já atravesse a estrada sem ter ataques de coração, já como picante sem ter de beber litros de água, e já prefiro comer com as mãos do que com talhares, os taxistas já me conhecem e já fazem o preço normal (e os que não conhecem e me tentam enganar ficam desapontados quando lhes viro as costas e digo que prefiro andar a ter de pagar tanto, fazendo com que eles aceitem a minha oferta bem mais pequena). Até o sotaque já é indiano.
O Natal e a Passagem de Ano foram bastantes dificies admito, a familia e os amigos eram presença constante na minha cabeça, até quando dormia. Só pensava em voltar para casa e como seria bom poder abraçá-los a todos...inclusive o meu Lucky, que devido às saudades passou a ser a imagem escolhida como fundo do ambiente de trabalho. 
Mas há um coisa que me continua a excitar, e a despertar a minha curisosidade a Natureza. Finalmente vou começar a visitar os Sanctuários de Vida Selvagem. Estar rodeada de árvores e animais é o que mais anseio desde que vim para cá. 
O primeiro, e que já tinha visitado anteriormente foi Dr. Salim Ali Bird Sanctuary. Acho que o pessoal fica um bocado intimidado ao ver um "rapariga branca" a fazer tantas perguntas e algumas bastante incomodativas (dá para perceber perfeitamente quando não querem responder, mas são obrigados devido ao trabalho que estou a fazer). É um Santuário dedicado às Aves, mas o seu ponto de interesse é o facto de ser todo ele coberto por manguezais (árvores que têm as suas raizes dentro de água e resistentes ao sal) e se situar num estuário. 


Apesar de não ser fã de Pessoas (peço desculpa, mas sinto-me mais confortável no meio dos animais do que com humanos) é bastante curioso ver o seu comportamente quando se deparam comigo a responder a tantas perguntas. O oficial responsável, sentui-se embaraçado com algumas das perguntas, e tinha de pensar muito bem nas respotas para não dar a parecer que não fazia a minima ideia do que é suposto ele ter de fazer na "sua área protegida", o guarda florestal de guarda só tem o nome, porque numa reserva que só tem 2km2 de área ele não sabe onde estão os ninhos, nem as flying foxes nem identificar as árvores presentes no sanctuário (são apenas 14 espécies). Os trabalhadores temporários (skippers e outros). que nunca estão só num sítio, são transferidos frequentemente, ao ínicio mostram-se tímido e com medo de responder, possivelmente porque não têm "voz" no que diz respeito ao sanctuário, as suas opiniões e sugestões não são ouvidas. Mas assim que percebem que estou ali para o ajudar, que quero melhorar as condições do sanctuário assim como eles, começam a disparar todo o tipo de sugestões e do que gostavam de ver feito ali. Um dos casos que mais me marcou foi um rapaz (também TT) que estava presente na primeira vez que visitei este sanctuário, sabia todas as aves que nos atravessavam o caminho e até os seus cantos, alimentação e reprodução, sinceramente sabia mais do que qualquer outro com cargo mais importante. Fui fazer o trilho que está demarcado para ver as suas condições e o que precisava ser feito, ele segui-me, e assim que me apanhou sozinha, começou a descarrilar todas as suas opiniões, preocupações e sugestões, mas sempre a pedir para eu não dizer nada ao "Big Boss". Pedia-me, quase que implorava, para que lhe dessemos uma posição como guia no sanctuário, assim que os restantes se juntaram a nós a conversa acabou. 
Semelhante foi o caso de um dos pescadores que trabalha como skipper no sanctuário. Ao inicio mostrou algum receio devido as perguntas serem sobre a sua "pesca ilegal" dentro do sanctuário, mas quando viu que eu queria ajudá-lo e não denunciá-lo, descozeu-se em agradecimentos e queria dar a sua opinião também, mais uma vez ninguém o tinha em conta. 
Passando à Natureza em si, o dia de ontem foi recheado de novos avistamentos de animais maravilhosos. Fui presenteada, com uma família de Lontras (2 adultos e 4 crias), um Stork, Garças Vermelhas, as maravailhosas cores do Kingfisher, os olhos vermelhos da Shikra além de toda a beleza de estar num barco e todo aquele maravilhoso verde à minha volta. 
Vão ser dois meses, desgastantes, stressantes, excitantes e espero eu...cheios de cor, cheiros, ároves e animais. O trabalho finalmente começa a parecer fazer sentido, apesar de a incerteza ser constante na confusão que é a minha cabeça. 

(Para fotos de animais e paisagem de Salim Ali Bird Sanctuary https://www.flickr.com/photos/lotustigrespavoes/sets/)